Chegar a esse número é uma tragédia horrível, como poucas que ocorreram na história do País e mais grave ainda pelas circunstâncias como ela ocorreu. O professor José Álvaro Moisés lembra que esses números se assemelham aos 100 mil mortos anualmente por acidentes de trânsito e mais de 60 mil pessoas que morrem em crimes de latrocínio. No caso do coronavírus o que transforma essa tragédia em um verdadeiro horror, causa revolta e traz um sentimento de indignidade diante do que ocorreu é que o Brasil teve uma espécie de janela, que os analistas chamaram a atenção pouco mais de um mês antes que a pandemia chegasse ao País. Isto permitiu ver o que acontecia nos outros países e aprender com eles, o que não ocorreu.
O presidente Jair Bolsonaro minimizou o fato, transformou a crise do coronavírus em uma “gripezinha”, desprezou as possíveis consequências para a sociedade, não preparou o governo, não liderou o País para enfrentar a situação, demitiu dois ministros em meio a uma enorme crise, não adotou as medidas de coordenação que levassem a uma cooperação, a um processo de forma a aproveitar a responsabilidade dos Estados, dos municípios junto com a União em uma estratégia global para enfrentar a crise.
As autoridades federais menosprezaram a estratégia de distanciamento social, que poderia ter evitado a expansão da contaminação. Mesmo no caso de Estados e municípios que adotaram as medidas adequadas, com a pressão que ocorreu, principalmente por setores econômicos, houve a antecipação do momento da flexibilização, o que aumentou o número de contaminados e mortos.
Para José Álvaro Moisés “as autoridades federais, estaduais e municipais devem ser cobradas pela sua responsabilidade, pelo que podiam ter feito e não fizeram. Mas a sociedade também precisa refletir sobre seu papel já que, por vezes, muitas pessoas, em várias cidades, lugares e situações, ao invés de adotar as medidas de isolamento social, e com isto evitar a expansão da contaminação, provocaram aglomerações, não usaram máscaras e outras medidas de proteção e saúde. É preciso refletir sobre isso”.
Ouça no player acima a íntegra da coluna A Qualidade da Democracia.
Qualidade da Democracia
A coluna A Qualidade da Democracia, com o professor José Álvaro Moisés, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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