França perde momento de declarar interesse no Tratado de Cooperação Amazônica

Pedro Luiz Côrtes considera politicamente improvável a aprovação do pedido de Macron para entrar no tratado

 01/09/2023 - Publicado há 1 ano
“Macron sabe que os olhos do mundo estão voltados para a Amazônia” – Foto: Andre Deak via Wikimedia Commons
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O presidente da França, Emmanuel Macron, declarou interesse em participar do Tratado de Cooperação Amazônica, uma vez que possui território na floresta equatorial a partir da Guiana Francesa. No entanto, o líder europeu não compareceu na Cúpula da Amazônia, organizada pelo governo Lula no início de agosto, quando se discutiu o tema, ocasionando um mal-estar entre ambientalistas franceses e membros do governo brasileiro. 

Pedro Luiz Côrtes, professor titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, afirma que, no momento, o pedido de entrada da França no tratado é politicamente muito improvável, tendo se perdido o momento para declaração de interesse. 

Antecedentes políticos 

O professor explica que houve uma sequência de erros diplomáticos por parte da França que estremeceram sua relação com o Brasil. Primeiramente, Macron não atendeu à Cúpula da Amazônia por estar em suas férias e enviou em seu lugar uma embaixadora, que está prestes a sair do cargo, ou seja, não terá mais suas funções administrativas em breve. 

“Além disso, algumas semanas antes, o Lula participou de um evento ambiental organizado por Macron e esperava reciprocidade, o que acabou não acontecendo”, complementa Côrtes. Mesmo com todas as tradições políticas internacionais, o professor ressalta um ponto mais consistente sobre a situação: o documento final da reunião. De acordo com o artigo 27 do Tratado de Cooperação Amazônica, “o presente tratado terá duração ilimitada e não estará aberto a adesões”. Assim, não se verifica politicamente uma possibilidade de entrada da França nesse cenário.  

Pedro Luiz Côrtes – Foto: Lattes

Interesses franceses 

A justificativa do território amazônico presente na Guiana Francesa é considerada válida por Côrtes como uma forma de área ultramarina, porém, ele destaca o atraso no reconhecimento e reivindicação desse direito por Macron. Outro aspecto do interesse francês refere-se a uma tentativa de pacificação da política interna, na medida em que houve uma forte crítica dos ambientalistas diante do menosprezo do presidente sobre o assunto. 

Além disso, o professor considera as pretensões políticas do presidente francês diante da queda na sua popularidade, devido ao descontentamento com a reforma tributária. “Macron sabe que os olhos do mundo estão voltados para a Amazônia, ele quer ser o único país europeu a participar desse tratado e, de uma maneira bastante informal, ser uma espécie de embaixador da União Europeia dentro desse tratado”, pontua o Côrtes. 

Dessa forma, a reação negativa após a “ausência” da França na Cúpula se deu pelo fato de o país não ter se manifestado no momento certo para declarar seu posicionamento, especialmente em um cenário de crescente importância da Amazônia nas questões climáticas. Ainda no âmbito nacional, o professor comenta sobre a possibilidade de regulamentação dos projetos de crédito carbono, sendo a floresta equatorial beneficiada com iniciativas de reflorestamento. 


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