Exposição se vale do mundo vegetal para questionar a naturalização dos preconceitos

A mostra “Botannica Tirannica”, de Giselle Beiguelman, também trata das relações entre a ciência e o colonialismo na classificação das espécies

 25/09/2023 - Publicado há 10 meses
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A exposição Botannica Tirannica chega ao Sesc Taubaté, em versão expandida, depois de passar, em um ano, pelo Museu Judaico em São Paulo, Karachi, no Paquistão, e Trieste, na Itália. Botannica Tirannica usa o mundo vegetal para questionar a naturalização dos preconceitos e as relações entre a ciência e o colonialismo na classificação das espécies. O foco do projeto são os processos de nomenclatura (científica e popular) que utilizam termos preconceituosos contra diversos grupos étnicos e sociais – entre eles negros, indígenas, judeus, ciganos, LGBTQIA+, mulheres e idosos.

A exposição é fruto de um longo processo de pesquisa, que mapeou milhares de plantas nomeadas pejorativamente como judeu-errante, orelha-de-judeu, maria-sem-vergonha, peito-de-moça, malícia-de-mulher, catinga-de-mulata, ciganinha, chá-de-bugre, cabelo-de-negro, língua-de-sogra e cabeça-de-velho.

Um dos destaques da exposição, além das plantas, é um ensaio audiovisual (disponível em https://vimeo.com/695789295) que combina imagens de arquivos que condensa a vasta pesquisa feita para a exposição Botannica Tirannica ao longo dos últimos dois anos. Outros pontos altos da mostra são as obras generativas produzidas com inteligência artificial a partir de conjuntos de dados organizados relativos a plantas dotadas de nomes ofensivos e preconceituosos.

A mostra tem também várias frases espalhadas que funcionam como guias conceituais. Destaco aqui duas: “Toda erva daninha é um ser rebelde”, conjugada à pergunta “E o que fica fora do padrão?”. Elas condensam as prerrogativas do projeto e da mostra e são chaves para a leitura dos jardins que plantei.

Composto de variadas espécies de plantas portadoras de nomes ofensivos, misóginos, racistas e antissemitas, o Jardim da Resiliência, que nesta edição incorpora novos grupos LGBTQIA+, império e etaristas, ele é o lugar em que as plantas desafiam o imaginário colonialista dos processos de classificação e dominação da natureza, confrontando nomenclaturas baseadas em preconceitos, a partir do diálogo que estabelecem com os seres vegetais criados com inteligência artificial.

https://botannicatirannica.desvirtual.com/


Ouvir Imagens 
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio  USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e  TV USP.

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