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O professor Renato Janine Ribeiro retoma o tema da relação entre miséria e luxo, já abordado em sua coluna anterior. Ele recorda que miséria é pior do que pobreza, pois é quando a pessoa não consegue sequer sobreviver o tempo normal de vida, enquanto o luxo é um excesso, caracterizado menos por riqueza do que por exibição  e ostentação. De acordo com o colunista, que cita uma série de TV para atestar seu ponto de vista, enxergar o outro, fazer com que se sinta como pessoa, pode ser muito importante no caminho para amenizar as tensões sociais. “Isso é um conflito social bastante intenso: quando uma pessoa é enxergada pela outra, ela é constituída como interlocutora e eu só considero meus interlocutores pessoas a quem eu respeito, eu posso discordar delas, eu posso discutir com elas, mas justamente, se eu discuto com elas, se eu as trato como segunda pessoa, a pessoa a quem se fala, então eu a estou respeitando de alguma forma; é diferente quando ignoro uma pessoa,  quando só falo dela, não para ela, mas dela, quando só falo na terceira pessoa”, exemplifica.

Trata-se de uma situação que pode ser observada também nas relações hierárquicas. “De modo geral, quando você tem uma hierarquia, patrão, chefe ou qualquer coisa assim, é muito significativo quando esse patrão ou o chefe olha para os outros, observa, nota, faz que os outros sintam que estão sendo reconhecidos, tudo isso é extremamente importante nas relações humanas […] esse é um ponto crucial: para nós termos uma sociedade democrática, nós precisamos de diálogo, precisamos de pessoas que conversem e reconheçam umas às outras, enxerguem a realidade dos outros, isso é fundamental”, diz Janine, antes de concluir: “Quer isso dizer que basta isso? Claro que não, claro que não basta, mas é um ponto de partida importante para deixar muito claro que o olhar, o diálogo, não acabam com a miséria, não acabam com o sofrimento, mas o olhar, o diálogo, ajudam muito a construir um espaço em que isso pode acabar”.