O cenário de tensões no Oriente Médio tem gerado preocupação sobre uma possível escalada que envolva diretamente Israel, Hezbollah e, eventualmente, o Irã. A situação, que se intensificou há cerca de duas semanas, é marcada por bombardeios israelenses em território libanês, com o alvo principal sendo o Hezbollah, um grupo armado apoiado pelo Irã – este, em resposta, lançou mísseis contra Israel, o que ampliou ainda mais o conflito, alimentando temores de um confronto regional maior.
O professor Kai Enno Lehmann, do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo, destaca os riscos crescentes de uma escalada: “O que pode acontecer é mais uma escalada do conflito, simplesmente porque Israel está atacando diretamente o principal aliado do Irã na região, o Hezbollah. Evidentemente, isso gera pressão doméstica no Irã para que haja uma resposta firme”. O especialista explica que o Irã tem um novo presidente recém-eleito, considerado moderado, mas agora sob muita pressão da ala mais radical do governo e do Estado iraniano para mostrar força e firmeza diante desses ataques.
Outro ponto levantado pelo docente é a crise humanitária que pode se agravar, atingindo cada vez mais civis. No Líbano, o governo anunciou que mais de 1,2 milhão de pessoas foram deslocadas internamente no país — que já lida com dificuldades humanitárias há muito tempo e enfrenta o risco de uma catástrofe maior. Lehmann também destacou que, apesar das ações de Israel contra líderes do Hezbollah e do Hamas, as causas desses grupos possuem respaldo popular entre certas partes da população, o que dificulta uma solução definitiva para o problema. “Vai enfraquecer esses grupos, sem dúvida, mas não vai acabar. Esses líderes vão ser substituídos, e mesmo se Israel conseguisse acabar de vez com esses grupos, outros vão surgir, até talvez de uma forma mais fragmentada.”
Diplomacia internacional
Nos bastidores diplomáticos, a ineficácia do Conselho de Segurança da ONU e da comunidade internacional em resolver questões como da Ucrânia, Gaza e Líbano foi outro tema abordado pelo professor. Ele criticou a inoperância das principais instituições globais, como a ONU e a União Europeia, que têm feito declarações sem tomar ações concretas. “Nada está sendo feito e Israel sabe disso, então pode agir como está agindo, porque sabe, no fundo, que não vai ter consequências políticas, nem práticas econômicas para o país.”
O envolvimento dos Estados Unidos, principal aliado de Israel, também gera preocupações. O presidente Joe Biden tem pedido que Israel evite ataques às centrais nucleares do Irã, um ponto crítico que poderia transformar o conflito em uma tragédia ainda maior. Além de toda a tecnologia de defesa antiaérea de Israel de um lado, Lehmann alerta que há essa questão nuclear do Irã, que é muito preocupante para o confronto.
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