Descarbonização no Brasil é uma realidade que mira novas tecnologias e áreas de exploração

Cleyton de Carvalho Carneiro comenta o fato de a Petrobras já ter dado início a ações voltadas para a mitigação da emissão de gases de efeito estufa

 10/02/2023 - Publicado há 1 ano     Atualizado: 16/02/2023 as 10:55
Há uma expectativa global de que as próprias empresas de petróleo atuem na transição energética, diminuindo emissões de CO2 em suas cadeias – Foto: Pixabay
Logo da Rádio USP

O novo presidente da Petrobras, ex-senador Jean Paul Prates – que desde o final de janeiro substitui Caio Paes de Andrade –, atuante no ramo há anos, defende que a estatal busque caminhos para a descarbonização. Ele defende que a empresa deve ser a impulsionadora da transição energética no País, ao mesmo tempo que deve continuar a investir em petróleo e gás, buscando também novas províncias produtoras de petróleo. 

Mas, enfim, o que é descarbonização e por que é importante na busca por energia limpa? Todas as atividades humanas atualmente acabam gerando emissão de gases CO2, o que ocasiona diversas crises climáticas. Alguns setores específicos são mais responsabilizados pelas emissões: mais de 70% das emissões globais são decorrentes da utilização de combustíveis fósseis.

 “Grande parte dessas emissões são relacionadas ao transporte, então a gente ainda tem uma rede de transporte no mundo inteiro, que é muito utilizada e muito movida a combustível”, lembra Cleyton de Carvalho Carneiro, do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo da Escola Politécnica da USP. Os processos industriais e aqueles relacionados ao consumo no geral também contribuem enormemente para as emissões globais. O Brasil é signatário do Acordo de Paris, de 2015, que visa à neutralização das emissões dos gases de efeito estufa.  

Ele lembra, ainda, que “há uma expectativa global de que as próprias empresas de petróleo atuem na transição energética, diminuindo emissões de CO2 em suas cadeias, ou mesmo desenvolvendo combustíveis com baixos teores de carbono. As empresas precisam de alguma maneira rever, readaptar e construir formas mais limpas e mais sustentáveis de produção de energia”, diz Carneiro. A Petrobras vem sendo uma empresa líder e de reconhecimento internacional pela descarbonização. Esta, por sua vez, não deve ser pensada como um processo único, mas distribuído por toda a cadeia.

A cadeia do petróleo começa na procura de reservatórios, seguida pela perfuração de investigação e, depois, os campos exploratórios passam a produzir o petróleo. Após esse processo, é feito o transporte até as refinarias, onde ele é transformado em combustível. “Então, toda essa cadeia tem formas de gerar ações com baixo carbono”, explica.

O petróleo tem determinados níveis de CO2, mas sua emissão à atmosfera não precisa ser uma regra. Ao invés de queimar o gás na plataforma, já existem mecanismos que injetam de volta o gás à matéria-prima. “Já existem mecanismos de reinjetar o CO2 e fazer uma planta para separar o CO2 do petróleo, e injetar a parte desse CO2 nos reservatórios. Ele pode ser utilizado como ação mecânica de empurrar o óleo, ou seja, auxilia na recuperação do petróleo e, ao mesmo tempo, ele fica ali estocado nos reservatórios”, explica.

Como isso acontece?

Cleyton de Carvalho Carneiro – Foto: Arquivo Pessoal

Por meio da injeção alternada de água e gás, o gás carbônico é capturado. Isso previne que ele seja liberado no meio ambiente e ajuda na recuperação dos reservatórios. É uma possibilidade que já acontece na estatal e é destaque de descarbonização no mundo. Um dos exemplos é o Campo de Tupi, a maior produtora de petróleo em águas profundas no mundo, produzindo mais de 1 milhão de barris de petróleo por dia. A produção de Tupi corresponde a 45% do volume produzido em todo o pré-sal – de onde vem a maior parte do petróleo brasileiro.  

Toda a cadeia tem possibilidade de redução de níveis de CO2, por meio do desenvolvimento de combustíveis mais limpos, como diesel renovável: o seu potencial de redução de gases efeito estufa está entre 55% e 90% quando comparado aos combustíveis derivados do petróleo. “Recentemente a Petrobras anunciou que irá criar uma Diretoria de Energias Renováveis, com sede em Natal. Vale ressaltar que a região Nordeste já possui um foco particular na geração de energias renováveis, a exemplo da energia eólica”, diz o professor. 

Outro avanço é a exploração da Margem Equatorial – que vai do Amapá até o Rio Grande do Norte, abrangendo as bacias da Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar-Mar –, chamada de “novo pré-sal” por conta de semelhanças nas camadas de rochas e na deposição de sedimentos encontrados na bacias do Suriname-Guiana com o oeste africano, “onde ocorreram descobertas grandiosas de petróleo.

“Se confirmadas as expectativas, o Brasil poderá ter nas suas bacias de margem equatorial, com suas especificidades particulares, uma outra grande fronteira exploratória após o pré-sal”, afirma o professor. 

Integração empresas e academia

Grande parte das descobertas do diesel renovável, a interação entre rochas e fluidos para desenvolver uma ação de estocagem e o desenvolvimento de tecnologias de separação de gás carbônico passam por pesquisas, que envolvem empresas e a academia. Isso ajuda na busca e implementação de processos sustentáveis. 

Outro fator que ajuda na busca pela descarbonização e redução das emissões são as leis de incentivo, como a lei de incentivo vistoriada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, que destina partes dos recursos da produção para investimento em pesquisa.  “Isso é muito positivo, no sentido de que, dentro da academia, é possível formar recursos humanos e desenvolver pesquisas. Nós estamos contribuindo de alguma maneira para o avanço da tecnologia, que vai influenciar na descarbonização”, diz Carneiro. 

Existe uma facilidade em colocar o petróleo como vilão, mas a quantidade de aplicação – como o asfalto, produção de medicamentos, pavimentação de vias e até produção de pigmento –, além de fonte energética, mostra a versatilidade e a necessidade de seu uso. “O petróleo não é especificamente o vilão. Talvez os vilões sejamos nós mesmos com os nossos consumos. Temos que refletir sempre sobre essa forma de consumir”, comenta o professor. Ele salienta que é preciso encontrar maneiras de tornar esses combustíveis e derivados mais limpos e menos danosos ao meio ambiente. 


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.