Como a rápida explosão de ferramentas de IA afeta o clima?

A pergunta é do professor Glauco Arbix, nesta sua coluna, que responde afirmando que o consumo de energia dos grandes centros de dados tem gerado um impacto desastroso

 10/09/2024 - Publicado há 5 meses

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Você já se perguntou qual é a relação entre inteligência artificial e clima? De acordo com Glauco Arbix, em geral a inteligência artificial é invocada para sustentar a ideia de que as suas virtudes podem ajudar a diminuir o impacto nas emissões de carbono e oferecer saídas para as mudanças do clima, “que machucam todos os países e ameaçam todo o planeta. “Podemos, no entanto, fazer a pergunta em sentido oposto: como é que a rápida explosão de ferramentas de IA afeta o clima? E a resposta nem sempre é agradável.” Ele explica que os novos modelos “têm uma fome insaciável por dados e devoram todo tipo de dado que encontram pela frente. O consumo de energia dos grandes centros de dados tem gerado um impacto desastroso, que atinge os esforços coletivos que globalmente a humanidade faz para reduzir o consumo de combustíveis fósseis”. Na prática, segundo estudo recente da Universidade de Amsterdã, os data centers, juntos, consomem hoje mais eletricidade que muitos países. “Estamos falando de tudo junto, mas a realidade é que houve um salto no consumo de energia após o lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022.”

O grande problema é que as grandes empresas – Amazon, Google, Microsoft, TikTok, Face – passaram anos prometendo que reduziriam o consumo de energia e a emissão de carbono. “Apenas no ano passado, a emissão de carbono da Amazon foi o equivalente a 184 plantas de produção de eletricidade movida a gás e a empresa, hoje, despeja na atmosfera 34% mais carbono do que ela jogava na atmosfera em 2019.” A  mesma coisa acontece com a Microsoft e com a Google, “que prometeram zero emissão de carbono até 2030 e hoje produzem cerca de 30% mais carbono do que em 2020”. Se o consumo de eletricidade é um enorme problema para a IA, a coisa não é diferente quando falamos de outro bem natural: a água, que é usada para esfriar os data centers. “Os minerais usados nos computadores, nos chips, é outro ainda, ou então o aumento do consumo de bens, que jogam mais carbono na atmosfera graças à atuação da IA. Pensar a longo prazo ajuda, intensificar a colaboração entre a pesquisa, a Universidade e a indústria também, mas, nessa metade de década, a realidade é que a construção de economias de baixo carbono mostra-se mais distante. A não ser que novas fontes de energia limpa surjam, o que não parece estar à vista”, conclui o colunista.


Observatório da Inovação
A coluna Observatório da Inovação, com o professor Glauco Arbix, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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