“A musa do tropicalismo e do desbunde nos deixou”

Guilherme Wisnik comenta a morte de Gal Costa, uma artista que sempre se caracterizou pela postura de contestação, a ponto de ser considerada um emblema da resistência e da liberdade mesmo durante o período mais ferrenho da ditadura militar

 17/11/2022 - Publicado há 2 anos
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A cantora Gal Costa, cuja morte, recentemente, lamentamos, é o mote da coluna desta semana do professor Guilherme Wisnik. Para ele, trata-se de uma das maiores artistas que a cultura brasileira já produziu. “É uma artista da voz, da presença e do canto, uma artista muito mais da afirmação corporal, da magia do poder da arte.” Wisnik traça um breve perfil artístico da cantora baiana nas várias fases pelas quais passou e de suas performances, marcadas pela postura de contestação que sempre a caracterizou. Como quando desnudou os seios, num show realizado em 1994, ao cantar Brasil, de Cazuza. Na época já com 50 anos, a artista foi criticada pelos moralistas e caretas de plantão. “Mais uma vez, a caretice aflorando e sendo afrontada, porque Brasil mostra a sua cara era um canto do rock nacional, de indignação, “um pouco na contracorrente do otimismo ingênuo, com a volta à democracia”.

Para o colunista, Gal foi a artista que deu voz e arte a tudo isso, além de ter tido o mérito de lançar talentos como Luiz Melodia e Djavan. “Uma extensão de carreira artística impressionante.” E ele finaliza a coluna abordando a presença de Gal em Fa-tal, a Todo Vapor, em 1971, num momento em que Caetano Veloso e Gilberto Gil estavam exilados pela ditadura militar, em Londres, e “Gal é quem estava segurando a peteca do pós-tropicalismo no Brasil, com toda força da arte atuante”. Nesse show emblemático, no teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro, Gal, por um motivo narrado por Wisnik em sua coluna, é guindada à condição de “um emblema da resistência e da liberdade em meio ao período mais duro da ditadura militar”. Por essas e outras, ela se tornaria “a musa do tropicalismo e do desbunde”.


Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar  quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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