A arte indígena refletindo um modo de ser e estar no mundo

Guilherme Wisnik comenta a valorização da arte indígena, que passou a ser vista não como algo primitivo ou exótico, mas como uma produção inclusiva, capaz de abarcar outras cosmovisões

 02/05/2024 - Publicado há 7 meses

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Guilherme Wisnik escolhe como tema de sua coluna a arte indígena, que tem sido valorizada no Brasil e no mundo, como se viu recentemente na Bienal de Veneza, embora seja um movimento que pode ser rastreado no passado, pelo menos desde 1989, com a exposição Os Mágicos da Terra, em Paris, que inaugurou “um outro olhar sobre aquilo que antes se chamava sempre de primitivo ou de exótico e que consistia no olhar sobre a produção, que a gente pode dizer artística, de povos da América do Sul, da África, da Oceania”. O desafio, no caso, de acordo com ele, é o de superar as visões exóticas e tratar uma produção do ponto de vista da arte, levando em conta o fato de que ela não foi feita com esses critérios, “porque, na maioria das vezes, essas artes, originárias dessas produções culturais desses povos, guardam uma proximidade muito grande com os sentidos mágicos, religiosos e também com um sentido utilitário, que são adornos corporais, objetos de uso cotidiano, cerâmicas, arco e flecha, cocar, muitas vezes investidos também de um papel ritualístico”.

Aqui, Wisnik cita o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro para ilustrar a forma como a antropologia tem contribuído para uma visão mais esclarecedora dessa produção artística. “O que o Eduardo aponta como perspectivismo ameríndio, por isso perspectivismo, porque põe tudo em perspectiva na relação com o outro, quer dizer, o que é dado como certeza é que o outro existe, portanto, você pode supor que ele também pensa. Essa diferença abre uma maneira completamente outra para se olhar, considerando a antropologia como a ciência da alteridade, justamente a ciência que dá voz ao outro. E as produções dos povos originários como sendo produções que estão situadas aquém do desencantamento do mundo, anteriores, num certo sentido, àquilo que o Ocidente fez, que foi o processo de racionalização científica de desencantar o mundo e de expurgar do mundo as forças mágicas, anímicas, tudo isso.” Ele conclui: “A gente tem visto uma abertura muito grande no campo da arte, que já não se situa mais como apenas estético ou não se pensa apenas do ponto de vista da autonomia da arte, mas, sim, como uma produção bastante inclusiva, que pode abarcar todas essas outras cosmovisões e modos de ser e estar no mundo”.


Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar  quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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