Momento Sociedade #21: Lazer na periferia depende de políticas públicas eficazes

José Luiz Portella lamenta que episódios como o de Paraisópolis só ganhem repercussão no instante em que ocorrem. “Eles são discutidos só no momento da crise, sob forte aspecto emocional, com a profundidade e a amplitude de uma semana, ou quinze dias no máximo”

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 10/12/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 12/12/2019 as 11:25
Momento Sociedade - USP
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Momento Sociedade #21: Lazer na periferia depende de políticas públicas eficazes
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A morte de nove jovens coloca os bailes funk no centro do debate público. Na noite do dia 1º, domingo, operação da Polícia Militar (PM) causou pânico no fluxo mais conhecido de Paraisópolis, o DZ7. Gustavo Cruz Xavier, 14; Dennys Franca, 16; Marcos Paulo Oliveira, 16; Denys Henrique Quirino, 16; Luana Victoria Oliveira, 18; Gabriel Rogério de Moraes, 20; Eduardo da Silva, 21; Bruno Gabriel dos Santos, 22; e Mateus dos Santos Costa, 23, foram a óbito em meio a disparos da PM e a consequente confusão.

José Luiz Portella, doutorando da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), lamenta que esses desastres ocasionados por problemas estruturais só ganhem tempo de tela no instante em que ocorrem. “Eles são discutidos só no momento da crise, sob forte aspecto emocional, com a profundidade e a amplitude de uma semana, ou quinze dias no máximo”, diz ao Jornal da USP no Ar.

Para Portella, esse é um traço do brasileiro como homem cordial. As pessoas se movem por emoção e com poucas informações. Dessa maneira, os problemas são vistos por uma perspectiva relacionada à crença ideológica ou política. “Nada é resolvido assim”, argumenta. 

O baile DZ7  surge da organização dos comerciantes locais. Eles negociam com os responsáveis pelos aparelhos de som, normalmente em carros, conta o pesquisador. “Um jovem se diverte no pancadão com dez ou 20 reais”. Então, há um interesse econômico. As quantias são pequenas, mas as transações são muitas. O local da festa é a própria rua. Além do lazer e dos benefícios ao comércio local, surgem transtornos com limpeza, barulho e segurança.

Na visão de Portella, a solução está em um alinhamento do poder público com os interesses privados. “É preciso entender que a busca por lazer desses jovens faz parte da vida econômica da capital”, esclarece. O Estado pode fornecer locais. Na zona sul, o autódromo de Interlagos é um bom exemplo. Além disso, existe a necessidade de transporte. Portella fala que uma tarifa noturna facilitaria os deslocamentos, aproveitando da ociosidade dos trens e ônibus durante a noite. Os negócios locais teriam de se adaptar à nova infraestrutura.


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