A maconha é utilizada há séculos para fins religiosos, medicinais e recreacionais. Porém, apenas por volta da metade do século passado sua composição química passou a ser conhecida e foram descobertos o delta-9-tetrahidrocanabinol (conhecido como THC) e o canabidiol (conhecido como CBD), suas principais substâncias. O THC é a substância responsável pelos efeitos da maconha, o chamado “barato”.
Além disso, na década de 1990, foram descobertas áreas no cérebro que teriam receptores específicos para o THC agir, provocando esses sintomas do “barato” da maconha. Logo em seguida, descobriu-se que os mamíferos produzem substâncias semelhantes ao THC dentro do próprio organismo e essas substâncias foram chamadas de canabinoides endógenos. Essas descobertas levaram a grande aumento dos estudos sobre os efeitos da maconha. E esse é o assunto do podcast Minuto Saúde Mental desta semana.
Assim como o álcool, a maconha atua no sistema nervoso e produz alterações nas nossas sensações e comportamento. Por causa disso, seu uso sempre foi relacionado à descontração, aumento da sociabilidade, bem-estar, diminuição da ansiedade e aumento das capacidades artísticas, fazendo com que muitas pessoas procurem a droga. Por muito tempo acreditou-se que a maconha não tivesse efeitos prejudiciais duradouros, o que criou uma crescente movimentação para sua liberação e legalização.
Com o aumento do conhecimento sobre a ação da maconha e do sistema canabinoide no organismo humano, vem ficando cada vez mais claro que ela não é tão inócua assim. As primeiras evidências mostram que o uso da maconha pode provocar quadros psicóticos (ou seja, perda de contato com a realidade) agudos e passageiros. Além desses quadros passageiros, estudos com grandes populações mostraram que quanto mais cedo uma pessoa começa a usar a maconha, maior é a chance de ela desenvolver quadros psicóticos permanentes, como a esquizofrenia.
Além das psicoses, sabemos hoje que a maconha pode provocar quadros de ansiedade, como o transtorno de pânico; prejuízo na memória e na coordenação motora e julgamento alterado. Também foi descoberto recentemente que a maconha pode causar dependência e também crises de abstinência, o que se duvidava anteriormente.
É claro que esses problemas causados pela maconha dependem da frequência, intensidade e idade de início do uso da mesma, além de fatores genéticos e ambientais.
Assim, apesar de muitas vezes o uso da maconha aparecer glamurizado em filmes, séries etc., atualmente não existem mais dúvidas que seu uso pode provocar transtornos mentais, às vezes passageiros, às vezes permanentes.
Texto: Jaime Hallak
O Minuto Saúde Mental tem apresentação do professor João Paulo Machado de Sousa, produção dos professores Sousa e Jaime Hallak, com apoio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Translacional, iniciativa do CNPq e Fapesp.