As relações entre a sociedade civil e o meio ambiente são debatidas no quarto dia do “USP Pensa Brasil”

Jerá Guarani, Sérgio Adorno, Ricardo Galvão, Marina Marçal e Patrícia Iglecias estão entre os participantes da programação

 08/08/2024 - Publicado há 2 meses     Atualizado: 12/08/2024 às 14:04
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As relações entre a sociedade civil e o meio ambiente são debatidas no quarto dia do “USP Pensa Brasil”

Jerá Guarani, Sérgio Adorno, Ricardo Galvão, Marina Marçal e Patrícia Iglecias estão entre os participantes da programação

 08/08/2024 - Publicado há 2 meses     Atualizado: 12/08/2024 às 14:04

Texto: Eliete Viana

Arte: Jornal da USP

Fotomontagem Jornal da USP feita com imagens de Freepik e kjpargeter/Freepik

É possível integrar o meio ambiente nas grandes metrópoles? O golpe de 1964 teve consequências na política ambiental? Qual a relação da sociedade civil e o meio ambiente? Essas são algumas das perguntas que serão discutidas durante as atividades do dia 15 de agosto, no quarto dia do USP Pensa Brasil, no Auditório István Jancsó do Espaço Brasiliana, na Cidade Universitária – que acontecerá de 12 a 16 de agosto, com o tema COP 30 e os Desafios para o Brasil.

Pensar a metrópole com inclusão: experiências integrativas em meio ambiente é o título da conferência promovida pela Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) da USP, às 14h. A mesa aborda o debate sobre os futuros da cidade e da sociedade, com protagonistas de diferentes ações sobre o território, que mobilizam conhecimentos e transformam a metrópole em um grande laboratório de ideias inovadoras.

Ana Lúcia Duarte Lanna - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Ana Lúcia Duarte Lanna - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

“As emergências climáticas e humanitárias fazem das questões ambientais objeto incontornável. As metrópoles são lugares onde estes problemas se apresentam de forma exponencial, mas também são centros de produção de soluções inéditas. As respostas aos desafios vêm de lugares geográficos e institucionais inesperados e diversos. A Universidade deve saber ouvir e propor conhecimento, diálogos e estratégias a partir desta multiplicidade de experiências e agentes”, afirma a pró-reitora de Inclusão e Pertencimento, Ana Lúcia Duarte Lanna.

Na dinâmica da atividade, haverá apresentações dos palestrantes Jerá Guarani, que é educadora, líder indígena do povo Guarani Mbya e habitante da terra indígena Tenondé Porã; Adriana Salay, historiadora que estuda a fome no Brasil e coordena o projeto Quebrada Alimentada, responsável por levar alimentos de boa qualidade a populações vulneráveis; e Pedro Martin Fernandes, arquiteto e urbanista, que integra o grupo de pesquisa São Paulo Metrópole Fluvial e é presidente da SP Urbanismo.

A mesa terá como debatedor o diretor de Direitos Humanos e Políticas de Reparação, Memória e Justiça da PRIP, Renato Cymbalista. A coordenação será de Ana Lanna.

Consequências da ditadura

Às 16h30, uma atividade organizada pelo Centro Observatório das Instituições Brasileiras (OIB) e pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV), ambos da USP, discute os 60 Anos do Golpe de 1964 e Suas Consequências na Política Ambiental. A mesa se propõe a compreender como experiências passadas ainda desafiam a atualidade. Dessa forma, serão discutidos os desdobramentos sobre o modelo de desenvolvimento empreendido ao longo da ditadura, com consequências socioambientais que ainda hoje se apresentam como desafios para o Brasil.

“Para compreendermos a violência como um fenômeno social, é essencial considerar o fenômeno do autoritarismo, que foi interpretado de maneiras distintas pelas ciências sociais ao longo da história brasileira. Analisar a experiência da ditadura militar no Brasil nos ajuda a compreender os desafios contemporâneos, como as resistências para a efetivação dos direitos humanos e a dificuldade de controlar a violência estatal nos limites da lei”, explica o professor de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e coordenador científico do NEV, Sérgio Adorno, um dos participantes do debate.

Outro participante é Marcos Alvarez, também professor de Sociologia da FFLCH e coordenador-geral do NEV, que ressalta a relação entre o autoritarismo e o tema do evento. “No NEV, compreendemos o autoritarismo a partir da análise das diversas manifestações de violência nas relações entre Estado, sociedade e cultura, observadas no País ao longo da história. Nesta mesa, propomos revisitar algumas correntes de pensamento e discutir os desdobramentos do modelo de desenvolvimento implementado ao longo da ditadura, cujas consequências ainda hoje se apresentam como desafios.”

Também contribuirão com o debate: Guilherme de Almeida, professor da Faculdade de Direito (FD) e pesquisador associado e membro do Conselho Científico do NEV; e Rubens Beçak, professor da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP), assessor técnico de Gabinete na Reitoria da USP e também foi coordenador do Núcleo dos Direitos da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP, de 2014 a 2018.

A programação continua às 18h30, com a apresentação do livro Entre oligarquias: as origens da República brasileira (1870-1920), de Rodrigo Goyena, publicado pela FGV Editora e já disponível para a compra no site. A obra oferece ao leitor seis capítulos que o conduzem pelo Brasil dos anos 1880 a 1920, esclarecendo questões políticas e sociais que se refletem no atual País.

De acordo com o autor Rodrigo Goyena, que é professor de História do Brasil da FFLCH, “a questão ambiental está perfeitamente vinculada ao entendimento que temos da nossa coletividade”. Ou seja, nossa identificação como cidadãos brasileiros. O recente passado republicano traz à tona a restrição de acesso à terra e a acanhada distribuição de renda, que resultaram na depredação e injustiça ambiental, temas a serem abordados no USP Pensa Brasil.

A parte artística do dia fica por conta da apresentação musical do Coral da USP, com Xirê de Canções, às 19h. Nas tradições religiosas de matriz afro-brasileira, o xirê são as músicas tocadas e cantadas no início das celebrações religiosas, nas quais cada um dos orixás é invocado por meio de suas histórias. Normalmente, o xirê se inicia com uma música a Exu, orixá da comunicação, dos caminhos, e ligado também aos inícios de qualquer ação ou projeto. Depois, cada casa de candomblé ou umbanda possui uma sequência própria, que está relacionada com a tradição seguida por aquela casa. Deve-se salientar que no cantar das histórias de cada um dos orixás está inscrita a memória e a tradição dos povos que foram trazidos para o Brasil como escravos.

Ao cantar um xirê, canta-se a memória das populações antes da escravização, mas também sua resistência perante a escravização. Na apresentação proposta pelo Coralusp – Lapa, o xirê será formado por músicas presentes na cultura popular e urbana brasileira, em circulação desde 1950. É uma forma de aproximar o erudito do popular e, ao mesmo tempo, de apresentar a atualização da resistência dos povos afro-brasileiros perante uma sociedade estruturalmente racista.

As contribuições da sociedade civil

Para finalizar o dia, o seminário debate o tema Sociedade Civil e o Meio Ambiente, às 19h30. O enfrentamento dos desafios ambientais deve seguir um estreito diálogo com a sociedade. As experiências de comunidades locais – de quilombolas, ribeirinhas e povos indígenas –, assim como as ações de organizações da sociedade civil, apresentam novas perspectivas sobre a reprodução social, que devem ser instrumentos valiosos para a promoção de políticas ambientais.

Os convidados para o debate são: Ricardo Galvão, professor do Instituto de Física (IF) da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e atual presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Eduardo Neves, diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP; Eduardo Viveiros de Castro, professor do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e Marina Marçal, chefe de diplomacia e advocacy para cidades na C40 e membro do conselho consultivo da Frente Parlamentar Ambientalista.

A mediação ficará por conta da superintendente de Gestão Ambiental da USP, Patrícia Iglecias, que é professora da Faculdade de Direito da Universidade, codiretora do Escritório Regional do Pacto Global das Nações Unidas (Cidades do Brasil) e ex-secretária de Meio Ambiente do Governo do Estado de São Paulo.

Eduardo Goes Neves - Foto: Rafael Veríssimo, Eduardo Viveiros - Foto: Bruno Fuji , Marina Marçal - Foto: Reprodução, Ricardo Galvão - Foto: Leo Chaves
Patricia Iglecias - Foto: Reprodução
Patricia Iglecias - Foto: Reprodução

A mediação ficará por conta da superintendente de Gestão Ambiental da USP, Patrícia Iglecias, que é professora da Faculdade de Direito da Universidade, codiretora do Escritório Regional do Pacto Global das Nações Unidas (Cidades do Brasil) e ex-secretária de Meio Ambiente do Governo do Estado de São Paulo.

Esta é a terceira edição do USP Pensa Brasil, que, desde a sua primeira edição, realizada em 2022, procura tornar a Universidade uma participante e uma interlocutora mais ativa das questões fundamentais do nosso País e do mundo. A iniciativa é da Vice-Reitoria da USP, por meio da coordenadora-geral do evento, a vice-reitora Maria Arminda do Nascimento Arruda, e conta com o apoio das Pró-Reitorias, museus e institutos da Universidade.

Todas as atividades são gratuitas, abertas aos interessados em geral e fornecem certificados de participação aos inscritos. A programação completa do evento e mais informações estão disponíveis no site do USP Pensa Brasil.

 

Clique neste link para conferir a transmissão.


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A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.


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