Alunas da USP desenvolvem projeto de empreendedorismo para saúde da mulher na gravidez

A futura plataforma vai atender gestantes em todas as fases da gravidez, com conteúdos informativos, vídeos e consultas com profissionais da saúde

 20/12/2022 - Publicado há 2 anos
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Foto: Reprodução/Pixabay

A partir da ideia de saúde e cuidado humanizado da mulher gestante, as alunas Luciana Rangel e Gabriela Torrezani, do curso de obstetrícia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, criaram a startup Tuli Saúde e estão desenvolvendo uma plataforma virtual de atendimento a gestantes durante todo o período da gravidez.

A Tuli Saúde é um canal virtual que buscará ajudar mulheres gestantes no pós-parto, ou que estão tentando engravidar. Os conteúdos disponibilizados serão cursos e vídeos sobre os principais temas de fertilidade, gestação e puerpério (período após o parto), consultas de telessaúde e grupos virtuais mediados por obstetrizes.

Desenvolvimento da startup

A iniciativa começou a ser desenvolvida em abril, a partir da análise pessoal das criadoras sobre a qualidade obstétrica no Brasil. De acordo com o DataSUS, a mortalidade materna é de 60 a cada 100 mil nascidos vivos, sendo 30 a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS), além do que, 45% das mulheres da rede pública sofrem com violência obstétrica. “Então, surgiu a ideia de levar para o mundo virtual essa atenção em obstetrícia, que é humanizada, personalizada e de alta qualidade”, conta Luciana.

Gabriela Torrezani – Foto: Arquivo pessoal

Além disso, as alunas da EACH perceberam que mulheres de baixa renda não possuem recurso financeiro que supra um bom atendimento obstétrico. “Nós vimos que, na prática, essa atenção humanizada individualizada, baseada em evidência científica, acaba ficando na mão de uma classe social mais alta no Brasil”, conta Gabriela. 

O cenário pandêmico também colaborou para o desenvolvimento do projeto. “Com a pandemia, veio a explosão da telemedicina com consultas virtuais, mas poucas de telenfermagem obstétrica”, afirma Gabriela. Assim, as alunas de obstetrícia viram a oportunidade de complementar o mercado de atendimento em saúde. 

Inicialmente, o projeto se chamava Áurea Care, mas havia muitos registros com essa nomenclatura na área da saúde, havendo a necessidade de um novo nome. “Depois, eu tive um sonho com tulipas e acabou ficando o nome de Tuli Saúde”, conta Luciana. A parte gráfica e o conteúdo informativo do projeto foram feitos por Gabriela, já que sua primeira graduação havia sido em Audiovisual na USP.

Com a ideia em mente, o projeto seguiu para a fase de desenvolvimento e testes, além de entrevistas com mulheres gestantes no SUS. As alunas da EACH criaram, provisoriamente, um site da Tuli Saúde em que as pessoas interessadas puderam fazer seu cadastro. Em seguida, foram direcionadas a um grupo aberto de WhatsApp, em que receberam o conteúdo de obstetrícia e puderam fazer consultas e tirar dúvidas. “Foi um local para entendermos as necessidades dessas mulheres”, conta Gabriela.

Luciana Rangel – Foto: Arquivo pessoal

Esta experiência inicial contou com cerca de 50 mulheres e possibilitou entender as particularidades de cada etapa da gravidez. “Tem as que estão tentando engravidar, as que estão grávidas de começo de gravidez, outras no final da gestação, etc. Nós precisamos separar os grupos, porque eles precisam de informações diferentes”, conta Luciana. 

Em entrevista ao Jornal da USP, Gabriela conta que uma das particularidades dos grupos de WhatsApp era a interação entre as mulheres. “Elas mandavam muitas dúvidas, com exames e informações pessoais. Isso mostra como elas são ávidas por conhecimento e por explicações com linguagem acessível”, afirma ela. 

Além disso, o contato com as gestantes conseguiu mostrar aquilo que as alunas da EACH precisavam implementar em sua futura plataforma. “Elas usam muito o recurso do áudio entre elas, por opção ou dificuldade em escrever, então nós precisamos colocar isso na nossa plataforma”, observa Gabriela.

Investimento essencial

A fase atual do projeto está em adquirir investidores. “Precisamos buscar financiamento para, de fato, colocar a plataforma no ar, do jeito que a gente imagina, com consultas 24 horas e um banco de muitos conteúdos”, afirma Gabriela. “Se conseguirmos o financiamento o processo se torna rápido, porque a gente já está com ela pronta para desenvolver”, observa Luciana.

Além disso, os investimentos também serão usados para conseguir mais especialistas para os atendimentos e partes administrativas. “Sabemos que, para crescermos, vamos precisar de mais gente. Mas para ter mais gente, precisamos de investimento”, ressalta Luciana. 

As alunas da EACH almejam fazer todo o atendimento pelo futuro site da Tuli Saúde, com planos individuais para as mulheres. “Nós vamos ter um plano básico, com vídeos e informativos sobre a gestação. Com a versão paga, as pessoas terão acesso a consultas com profissionais da saúde, entre outras funcionalidades”, explica Luciana.

 

Empreendedorismo universitário

O Núcleo de Empreendedorismo da USP (NEU) é um programa de desenvolvimento de novos negócios de empreendedorismo e inovações dos estudantes da USP. O StartNEU é uma parte do NEU que busca atender iniciativas de criação de empresas, reunindo contatos exclusivos, apoio metodológico, drive de experimentação, cuidados com a monetização e muito mais. Luciana e Gabriela tiveram o apoio do StartNEU no desenvolvimento da Tuli Saúde.

Com a orientação dos monitores do StartNEU, as alunas de obstetrícia conseguiram organizar as etapas de criação de sua startup e acelerar o processo de execução. “Eles ajudaram a estabelecer uma linha do tempo, com metas, para a gente ir desenvolvendo”, conta Gabriela.

Premiação

Em 2022, o projeto recebeu uma premiação do StartNEU. Entre 400 inscritos, a Tuli Saúde ficou entre os cinco premiados, recebendo R$ 20.000,00 para incentivar o desenvolvimento da startup. “Eles escolheram as cinco que mais viram potencial para continuar fazendo acompanhamento, além do prêmio em dinheiro”, explica Luciana. 

Luciana conta como foi descobrir que a TuliSaúde havia sido contemplado. “Com o tempo, nós vimos que o nosso projeto estava evoluindo e tinha potencial, então de certa forma, nós já esperávamos”, diz ela.

Para as alunas da EACH, o projeto Tuli Saúde extrapola o âmbito acadêmico, por alavancar o empreendedorismo na Universidade. “É muito importante porque vai além da USP, permitindo um olhar atento às reais necessidades da sociedade”, conta Luciana.

 Além disso, a iniciativa possibilita aprofundar a visibilidade do curso de Obstetrícia. “É um curso novo, que muitos ainda não entendem a importância. Então, esse tipo de projeto, sendo feito por alunas de Obstetrícia, traz para a própria USP uma importância para esse curso”, explica Gabriela. 

Mais informações: neu.gestao@gmail.com 


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