Desde os tempos da Grécia antiga, os espetáculos teatrais se baseiam na intrínseca relação entre o que acontece no palco e a reação da plateia que assiste ao espetáculo. A simbiose entre público e atores, ao vivo, ali naquele momento, é um dos pilares do teatro como o conhecemos há séculos. Só que em tempos de quarentena por causa do coronavírus, essa relação sofreu uma drástica mudança: os teatros estão vazios e a plateia está – ou deveria estar – em casa. Então, o que fazer? Simples: assistir teatro on-line. Porque existe vida cultural para além do coronavírus e das maratonas de séries de TV.
A oferta de teatro, digamos, virtual está cada vez maior e é uma possibilidade real de entretenimento enquanto o vírus não passa. São peças filmadas diretamente do palco, muitas delas com recursos audiovisuais de primeira, além de monólogos, espetáculos de dança e mesmo bate-papo ao vivo com encenadores e autores – neste caso, vantagem para o virtual, já que esta oportunidade é rara no cotidiano teatral.
“Trata-se de uma excelente oportunidade para as pessoas conhecerem melhor o que está sendo feito no mundo do teatro e também para se ter contato com experiências culturais distintas que, normalmente, o público não teria”, garante o professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP Ferdinando Martins, ex-diretor do Teatro da USP, o Tusp, e jurado do Prêmio Shell de Teatro.
As opções, segundo Martins, são muitas, e vão desde encenações nacionais as mais variadas até oportunidades únicas, como conhecer o teatro e a cultura feitos fora do País, agora disponibilizados on-line. O Espaço Cultural Contigo en la Distancia, do México (contigoenladistancia.cultura.
Cena brasileira
Mas quem não tem familiaridade com a língua espanhola não precisa se preocupar. As ofertas nacionais são excelentes e ajudam – muito – a vencer a quarentena. O Teatro Alfa (teatroalfa.com.br), por exemplo, disponibilizou virtualmente concertos, espetáculos de ópera, de teatro infantil e de dança. Concertos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e da Filarmônica de Minas Gerais estão lá, além de espetáculos de dança do Grupo Corpo e da Cia. de Dança Deborah Colker. Para outros paladares, há também encenações do Metropolitan Opera House, de Nova York.
Mas há mais. A SP Escola de Teatro (www.spescoladeteatro.org.br) oferece uma série de espetáculos teatrais, entre eles o monólogo Todos os Sonhos do Mundo, apresentado pelo diretor Ivam Cabral. Responsável pelo grupo Os Satyros – que também organiza um festival internacional de teatro durante a quarentena, disponível no mesmo site –, Cabral apresenta seu monólogo como se fosse em um teatro fora da pandemia: às sextas e sábados, sempre às 21 horas – nada como tentar manter a normalidade. “Ele tem a sensibilidade de comunicação com o público, o que torna a apresentação, mesmo virtual, prazerosa”, garante o professor da ECA.
Já a Cia. de Teatro Palavra Z (palavraz.com.br) colocou à disposição do público 16 atividades culturais, entre elas música, ópera e espetáculos teatrais infantis e adultos. A ação, intitulada Teatro Online, já conta com mais de 40 mil visualizações e mais de 12 mil horas de exibição.
Para além da encenação virtual, o Teatro da USP também disponibilizou atrações para tornar a vida em tempos de covid-19 mais amena. São vídeos curtos, de no máximo 5 minutos, com artistas coma Maria Tendlau e Janaína Leite lendo passagens importantes de autores como Bertolt Brecht e Augusto Boal. “Sabendo que teatro é ação coletiva, mesmo quando feito a sós, e que a presença física é um dos fundamentos da relação teatral, o Tusp buscou criar ações que estimulem os encontros e diálogos possíveis, passados e futuros, neste período de isolamento”, afirma-se em uma parte do texto de apresentação do Tusp na página da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP (prceu.usp.br/noticia/usp-
Mesmo que seja virtual, que muito do que se sabe sobre assistir teatro não se aplique neste momento, a experiência sociocultural é importantíssima. E instigante. “O corpo pode não estar presente, mas o registro audiovisual e os vestígios daquilo a que se assistiu vão sensibilizar o espectador. Isso tudo torna a experiência muito rica”, garante Ferdinando Martins.