Morre o “último grande editor do Brasil”

O professor da USP Plinio Martins Filho lembra a obra de Jacó Guinsburg, que morreu no dia 21, aos 97 anos

 22/10/2018 - Publicado há 6 anos
Jacó Guinsburg: amor pelos livros, pela edição e pela cultura – Foto: Divulgação / ECA-USP via YouTube

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Jacó Guinsburg era o último grande editor do Brasil, figura cada vez mais rara no mercado editoral brasileiro, que vem sendo substituída pelo publisher – profissional que, diferente do editor, não acompanha todo o processo de confecção de um livro, desde a escrita até a edição, mas se dedica tão somente a executar um projeto editorial.

É dessa forma que o professor Plinio Martins Filho, do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, considera a atuação do editor, crítico de teatro e escritor Jacó Guinsburg, que morreu no domingo passado, dia 21, aos 97 anos. Nascido em Riscani, na atual Moldávia, em 1921, Guinsburg – que chegou ao Brasil aos 3 anos de idade com a família, fugindo do antissemitismo e da crise econômica no Leste Europeu à época – foi o fundador e presidente da Editora Perspectiva e Professor Emérito da ECA, onde lecionou no Departamento de Artes Cênicas.

Plinio Martins Filho: “Pessoas assim não têm sucessores” – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

“O cuidado que ele tinha pelo livro, pela edição e pela cultura era muito grande”, afirma Martins, que também é editor da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP e presidente da Editora Ateliê. Martins conviveu com o editor desde 1971, quando foi contratado para trabalhar no almoxarifado da Editora Perspectiva, onde depois assumiu a função de editor. No total, foram 18 anos trabalhando ao lado de Guinsburg. Após esse período, Martins atuou como diretor presidente da Editora da USP (Edusp) durante 25 anos. “Em todo esse tempo, ele sempre me incentivou e me apoiou muito.”

Para Martins, Guinsburg era um editor completo, que lia cada livro que publicava e acompanhava sua produção, opinava sobre a capa e os textos das orelhas dos volumes. “Cada livro era uma coisa nova para ele.”

A vocação de professor e a vontade de ensinar são duas marcas de Guinsburg que Martins guarda na lembrança. “Eu perguntava sobre qualquer assunto, ele parava e ficava horas me explicando sobre aquele assunto”, lembra o professor. “Eram verdadeiras aulas particulares que ele me dava. Ele tinha muita necessidade de ensinar”, destaca, lembrando a admiração que os alunos da ECA tinham pelo editor e professor.

Martins se alegra pela oportunidade de ter editado dois livros de Guinsburg pela Editora Ateliê, O Que Aconteceu, Aconteceu, em 2000, e Jogo de Palavras, uma seleção de poesias publicada neste ano, que foi tema de resenha no Jornal da USP (leia aqui). “Para mim, foi muito especial, porque era o discípulo editando o mestre.”

O bom humor também era uma das marcas registradas de Guinsburg, aponta Martins, que lembra do editor se referir a ele como “minha cria”. “A última vez em que nos encontramos foi quando fui à sua casa para lhe mostrar o livro Jogo de Palavras. Ele estava bem e, ao ver o livro, disse: ‘Você está me superando’. Mas quem dera isso fosse verdade.”

Martins também recusa ser visto como “sucessor” de Guinsburg. “Pessoas assim não têm sucessores. Era um homem de muita cultura, de muito amor pelos livros, que contribuiu para a vida cultural do País de forma realmente singular.”


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