O aumento da expectativa de vida e a redução da natalidade trazem a temática da velhice cada vez mais ao primeiro plano. Um quarto da população brasileira terá mais de 65 anos em 2060, segundo estimativas do IBGE. Além disso, existe uma diversidade cada vez maior nas formas de vivenciar e expressar a velhice. A observação desse cenário levou a pesquisadora Cíntia Liesenberg a uma busca para a identificação e a problematização de representações e discursos relacionados à velhice. Em sua análise, ela se deparou com uma grande diversidade de retratos do envelhecimento. Notou, porém, a ausência de perfis que abordassem a vulnerabilidade e a necessidade de cuidados que muitas vezes envolvem esta etapa da vida – e que tendem a ser vistas como algo negativo.
A partir do levantamento de postagens no Facebook sobre o assunto – que replicavam materiais de vários formatos e fontes –, Cíntia Liesenberg definiu o recorte do estudo, que se debruçou sobre publicações reproduzidas pelo Portal do Envelhecimento, organização tida como referência no tema. De novembro de 2017 a outubro de 2018, a pesquisadora analisou matérias jornalísticas do gênero perfil, identificando e analisando quatro categorias: velhices anônimas, velhices célebres, velhices LGBTI e velhices centenárias.
Os resultados da pesquisa estão na tese de doutorado Sob o signo do tempo: velhice e envelhecimento em perfis de idosos nas mídias, defendida na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, sob orientação da professora Mayra Rodrigues Gomes, do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE). Uma das conclusões é que esse universo rico de experiências apresentadas nas mídias confirma o resultado de estudos conduzidos por outros autores, que apontam para novas representações do envelhecimento na atualidade.
Segundo Cíntia, a tese também “contribui para pensar a importância dos espaços sociais que vêm sendo ocupados pelos idosos de forma mais intensa e da importância que a visibilidade desses novos posicionamentos adquire na sociedade contemporânea, e do lugar do sujeito que envelhece como um sujeito pleno de desejo, de intensidade, de histórias e potências de vida.”
Para ela, a ausência de perfis que abordem a vulnerabilidade e a necessidade de cuidados é algo preocupante, “uma vez que a dependência e a vulnerabilidade precisam ser abordadas, explicitadas, para que possam ser enfrentadas a fim de possibilitar uma velhice mais digna para a população de forma mais ampla”. De acordo com a professora Mayra Rodrigues Gomes, essa questão também pode reverberar em outros campos. O conhecimento sobre representações sociais trazido pela tese oferece, segundo ela, “vislumbrar novas formas de diálogo que contemplem os interesses dessa categoria [idoso]. A partir dela podemos, até mesmo, pensar a instituição de políticas públicas em proteção ao contingente de idade avançada que tem crescido, substancialmente, nos últimos anos”.
Cíntia acredita que a reflexão sobre as formas de representar o envelhecimento em nossa sociedade deve ser feita de maneira crítica e empática. “A velhice e as certezas que temos sobre ela, para além das questões orgânicas, resultam de uma construção simbólica. Uma construção social, passível de ser questionada, repensada e revista, de maneira a permitir que novas representações ganhem ascensão e que representações preconceituosas, que restrinjam o potencial de vida dos sujeitos nessa fase, sejam colocadas em xeque em busca de representações que permitam às pessoas um olhar de maior valorização dessa fase tão rica e importante da vida, em toda a sua abrangência e formas de expressão e vivências que ela permite e apresenta.”
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Amanda Ferreira / Assessoria de Comunicação ECA