Microfotografia de Cryptococcus neoformans no pulmão de um paciente – Foto: CDC/ Dr. Edwin P. Ewing, Jr. via Wikimedia Commons / Domínio público
![](https://jornal.usp.br/wp-content/plugins/advanced-wp-columns/assets/js/plugins/views/img/1x1-pixel.png)
.
![](https://jornal.usp.br/wp-content/plugins/advanced-wp-columns/assets/js/plugins/views/img/1x1-pixel.png)
.
Cada ano, mais de 1,5 milhão de pessoas morrem no mundo por infecções por fungos, um número maior do que as mortes causadas por malária ou tuberculose. Apesar disso, e do rápido surgimento nos últimos anos de fungos resistentes a tratamentos tradicionais, só existem três classes de antifúngicos no mercado, um número que permanece estável desde 2006.
Agora, pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) e do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP acabam de patentear um método para produzir, de forma rápida e econômica, novas moléculas com propriedades antifúngicas.
“A grande vantagem biológica é que essas moléculas têm um efeito antifúngico melhor ou similar aos antifúngicos que estão no mercado”, explica a professora Kelly Ishida, que desenvolveu os ensaios biológicos. “Esses compostos também mostraram ser ativos para, pelo menos, dois dos principais gêneros de fungos que causam infecções hospitalares, Candida e Cryptococcus, e para linhagens resistentes a antifúngicos comerciais, como o fluconazol.”
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2018/07/20180731_00_antifungicos2.jpg)
Os compostos são derivados da oxazolina, uma molécula com forma de anel, formada por três átomos de carbono, um de oxigênio e um de nitrogênio. Embora a oxazolina por si só não tenha nenhuma aplicação conhecida, alguns compostos que contêm o anel de oxazolina na sua estrutura têm propriedades clínicas, inclusive contra fungos. Mas, de acordo com os pesquisadores, os derivados obtidos pelo novo método mostram melhor atividade antifúngica e menor toxicidade contra células humanas do que os descritos até o momento na literatura.
Os métodos tradicionais para produzir derivados de oxazolinas têm um custo e um tempo de síntese altos, dois problemas que o novo processo evita.
“A gente tem só três passos reacionais. Isso é muito vantajoso porque você não despende um tempo muito grande para preparar. Os tempos de reação são muito curtos e os reagentes são baratos e fáceis de se encontrar”, explica o professor Hélio Stefani, responsável pela síntese das moléculas.
Novos fármacos
O desenvolvimento de novas classes de fármacos – que tenham estruturas diferentes aos fármacos tradicionais, ou que ajam sobre novos alvos terapêuticos – é fundamental para combater o surgimento de patógenos resistentes.
Na atualidade, só existem três grandes classes de antifúngicos: os macrolídeos, as equinocandinas e os triazóis, um número que permanece estável desde 2006. Hélio Stefani e Kelly Ishida acreditam que as oxazolinas podem agora abrir um novo caminho no desenvolvimento de novas fármacos antifúngicos.
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2018/07/20180731_00_antifungicos1.jpg)
“Hoje no mercado temos só 11 moléculas que são utilizadas por via sistêmica – oral ou intravenosa. E essas 11 pertencem unicamente a três classes químicas”, afirma Kelly. “A última droga antifúngica sistêmica aprovada pela FDA [Food and Drug Administration, órgão federal dos Estados Unidos de controle de alimentos e medicamentos] foi o isavuconazol, em 2015. Ele é um triazol, da mesma família química que foi desenvolvida lá na década de 70”.
Os pesquisadores querem agora dar continuidade ao desenvolvimento e estão procurando parcerias para realizar experimentos em modelos animais, de forma a comprovar a eficácia e segurança das novas moléculas. O pedido de patente foi intermediado pela Agência USP de Inovação.
Mais informações: e-mails hstefani@usp.br, com Hélio Stefani, e ishidakelly@usp.br, com Kelly Ishida