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Uma competição de ideias realizada no início de setembro durante o Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica, no campus da USP em Ribeirão Preto, revelou o potencial de um dispositivo que otimiza o trabalho dos profissionais de saúde no manejo das bolsas de soro. Trata-se de um equipamento colocado entre a haste de sustentação e a bolsa de soro que notifica a equipe de enfermagem quanto ao fim do procedimento, seja da quantidade de líquido do soro ou de algum fármaco.
O integrante do grupo que idealizou a inovação, o estudante Adolpho Antonio Simionatto Zucherato, do curso de Física Médica da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, conta que a ideia inicial era usar uma boia, parecida com o funcionamento de uma cisterna, para medir a quantidade de soro. Mas, em seguida, testaram o funcionamento por sensor de infravermelho, dinamômetro e mola, até encontrar o string gad (célula de carga, sensor preciso para medir peso) como solução final.
O produto final é, basicamente, “um paralelepípedo que, na parte interna, contém uma célula de carga e do lado externo um LED amarelo. A célula tem a função de detectar uma variação de peso na bolsa de soro, então, quando não há essa mudança, o LED pisca e também é enviado um sinal para o aplicativo do profissional de enfermagem que está acompanhando”, informa Zucherato sobre o funcionamento do aparelho.
O estudante argumenta que, em média, os profissionais de saúde perdem de três a quatro minutos por dia verificando a finalização do processo de aplicação de soro ou fármaco. Assim, avalia que a criação do dispositivo pode tornar o processo mais dinâmico, de modo que o profissional entenda o momento certo de realizar a troca do insumo ou, após a aplicação da quantidade necessária, liberar o paciente.
Além de Zucherato, o time que idealizou a novidade contou ainda com Maria Clara Isidoro Meluzzi e Alice Gabriely de Oliveira Balduino, alunas do ensino médio do Senai, Maria Luiza de Sá Barros Gomes, graduanda em Engenharia do Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA) e Yasmin Nogueira de Carvalho, do curso de Física Médica da FFCLRP. Com a inovação, a equipe venceu o Ideathon (evento que reúne pessoas para solucionar desafios específicos) realizado durante o 29º Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica (CBEB) 2024, ocorrido de 2 a 6 de setembro, em Ribeirão Preto. Como prêmio, poderão desenvolver sua ideia com ajuda de mentores e investidores, ou ainda ter a ideia acelerada em uma incubadora tecnológica.
Novas ideias
No Ideathon, os participantes, maioria de estudantes da área de tecnologia, foram divididos em grupos para desenvolver ideias inovadoras de tecnologia em saúde. O encontro contou com diferentes ideias e com auxílio de profissionais de diferentes áreas, tanto da academia quanto do mercado. As equipes montaram projetos baseados nas informações dos desafios recorrentes na área médica que, posteriormente, poderiam se transformar em produtos.
Ao falar sobre o evento e seus resultados tecnológicos, o professor Edwin Tamashiro, do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e membro da banca avaliadora do Ideathon, afirma que o progresso da área médica ocorre de maneira paralela ao avanço das tecnologias, de modo que a medicina evolui conforme o conhecimento e a incorporação de inovações tecnológicas. “O ideathon é justamente um evento para fazer com que jovens talentosos e criativos solucionem problemas de maneira inovadora”, diz Tamashiro.
Este Ideathon, informa Beatriz Sisdelli Brunini, Assessora do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) do Hospital das Clínicas da FMRP, foi desenvolvido por meio de consultas e demandas de desafios encontrados nos tratamentos, constatados por especialistas de diferentes áreas do HC-FMRP. O levantamento foi a base para que desafios específicos fossem apresentados pelos organizadores, favorecendo as propostas mais amplas. “A partir do que a gente obteve, tentamos encontrar dores em comum e agrupar os desafios de modo que eles se tornassem mais amplos”, conclui Beatriz.
Ao todo, conta a assessora, três desafios foram apresentados para o Ideathon. São eles os desafios relacionados a dispositivos médicos para diagnóstico ou tratamento de doenças; às tecnologias assistivas e inclusivas e, por fim, o desenvolvimento de dispositivos de tecnologias e controle de dados e tecnologias de monitoramento, categoria em que a inovação do grupo vencedor se enquadra.
Agente de mudanças
O formato do Ideathon proporciona ao participante oportunidade de estabelecer conexões, compartilhar ideias, aprofundar percepções e experimentação. É uma jornada de desenvolvimento de soluções inovadoras por meio de reuniões em tempo integral com um grupo de pessoas com diferentes habilidades e conhecimentos para trabalharem juntas em desafios que, no caso deste evento, eram da área de engenharia biomédica.
Para o professor Antonio Pazin Filho, do Departamento de Clínica Médica da FMRP e avaliador do Ideathon, a iniciativa é interessante, pois propicia a interação das áreas de medicina e engenharia na proposição de ideias, além do contato entre alunos de ensino técnico, graduação e pós-graduação (mestrandos e doutorandos).
O evento ainda incentiva o empreendedorismo e impulsiona agentes de mudança tecnológica, representados pelos projetos apresentados que, segundo o professor Pazin, foram “muito interessantes; algumas ideias precisam ser mais aprimoradas, mas tem ideias que já estão mais próximas do campo de aplicação, trazendo para a sociedade ideias diferentes”, conclui.
A produção dos projetos do Ideathon ocorreu através de “uma simulação de empreendedorismo conforme os desafios propostos”, comenta Daniel Takaki, organizador e avaliador do evento. Num primeiro momento, “fizemos basicamente uma jornada semelhante a de um empreendedor, ou seja, o participante começou apresentando a ideia; em seguida, eles tentaram convencer a banca que o projeto seria interessante para depois montar a equipe”, conta Takaki.
Os candidatos trabalharam em equipes, pensaram em soluções por meio de pesquisas e usaram o modelo Canvas Business, ferramenta de planejamento estratégico que ajuda a desenvolver ideias e esboçar modelos de negócio. Ao longo da produção, os candidatos foram orientados por avaliadores que analisaram os pontos de melhoria. Em seguida, os alunos apresentaram para a banca avaliadora um pitching (técnica de apresentação rápida e objetiva de um projeto) das ideias desenvolvidas; por fim, a banca decidiu o grupo vencedor.
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*Estagiário da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto sob supervisão de Rita Stella e Rose Talamone