Votação histórica nas eleições dos Estados Unidos para a presidência: Donald Trump versus Joe Biden. Trump se diz vencedor, mas é Biden quem está à frente na apuração parcial. Segundo o US Election Project, da Universidade da Flórida, os votos computados nas eleições americanas até o momento correspondem a quase 73% do total geral na eleição passada, indicando um recorde histórico nas eleições deste ano e, pelo menos em cinco Estados, as cédulas depositadas previamente superaram a votação total de 2016. A Pensilvânia é considerada um dos Estados-chave justamente por causa do grande número de votos enviados pelo correio, uma modalidade na qual os democratas tiveram uma quantidade muito maior de adeptos este ano. Segundo a apuração da Associated Press, Biden tem até o momento 238 votos eleitorais e Trump 213, lembrando que são necessários 270 votos para vencer a eleição.
No Jornal da USP no Ar de hoje (4), o professor Kai Enno Lehmann, do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, compartilha suas impressões sobre as eleições americanas até o momento, pois a situação ainda é incerta e esta eleição pode continuar até, no mínimo, sexta-feira (6). Nas pesquisas de intenção de votos, boa parte apontava uma vantagem maior para Biden do que de fato está acontecendo em alguns Estados. Segundo Lehmann, o país está profundamente dividido, e isso foi comprovado mesmo em grupos minoritários. “Nós sabemos que na Flórida, por exemplo, Biden não conseguiu uma parcela suficiente do povo latino, então ele perdeu a Flórida, e esses grupos parecem estar mais heterogêneos do que muitas vezes as pesquisas eleitorais indicam. Então, os voto latino e negro dividem um pouco mais do que as pesquisas de opinião pública conseguem identificar.”
Na análise de Lehmann, não teremos um resultado eleitoral hoje e, na previsão do professor, essa votação vai para os tribunais. Sobre a declaração de Trump de parar a votação, Lehmann compartilha que não há como acontecer no atual momento, visto que muitos votos que ainda não foram computados foram enviados antecipadamente, logo, são legais e devem ser contados. “O que o Trump está tentando fazer é criar uma narrativa e dúvidas sobre as eleições para que, em algum determinado momento, a Suprema Corte possa entrar no jogo para dar a vitória para ele. Mas os EUA têm a tradição de contar os votos por semanas depois das eleições, mesmo quatro anos atrás, eles contaram para duas ou três semanas depois das eleições. Então, no momento, não vejo isso acontecendo a curto prazo.”
Ao analisar as duas possibilidades de vitórias possíveis até o momento, Lehmann diz que Biden começaria a presidência numa posição bastante fraca, haja vista que os democratas não vão ganhar o Senado, mas, ainda assim, seria um alívio para os aliados tradicionais dos EUA. “Com algumas exceções, a grande maioria dos líderes tradicionais aliados dos EUA preferiria uma vitória do Biden, então poderíamos esperar uma ideia de normalização das relações entre os EUA e seus aliados.” Já a vitória do então presidente Donald Trump traria uma reação das alianças tradicionais de evitar lidar com os EUA, a não ser que absolutamente necessário. “Os aliados tradicionais vão tentar se afastar, dentro do possível. Obviamente têm líderes europeus e na América do Sul que apoiam a vitória do Trump e ele vai tentar construir ou fortalecer alianças com esses aliados.”
No caso do Brasil, Lehmann não vê mudança ou vantagem econômica para o País caso Trump ganhe, haja vista que “Trump é um nacionalista econômico, então ele não se importa com alianças econômicas”. Já uma vitória de Biden pode indicar um grande trabalho diplomático para o Itamaraty e o governo brasileiro. “O presidente teria que trabalhar para reconstruir essa relação diplomática, que não é o ponto forte do atual governo, então ele teria que superar esses problemas porque, querendo ou não, os EUA continuam sendo um dos maiores parceiros do Brasil.”
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