No último dia 1º de outubro, a China comemorou os 70 anos de sua revolução comunista, que alçou ao poder o líder Mao Tsé Tung e mudou para sempre a geopolítica mundial. Em meio a toda celebração e às manifestações libertárias em Hong Kong, o governo chinês de Xi Jinping reafirmou sua força.
Mas não é só no campo político que a China tem força. Ao longo de sete décadas, o país saiu de uma realidade pobre e agrária para ser a segunda economia mundial, enfrentando de igual para igual os Estados Unidos.
Para falar sobre os 70 anos da Revolução Chinesa, o Diálogos na USP, apresentado por Marcello Rollemberg, recebeu José Augusto Guilhon Albuquerque, cientista político, professor aposentado da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP e membro do grupo de estudos Brasil-China da Unicamp. Também falou Shu Changsheng, professor de Literatura e Cultura Chinesa na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e autor dos livros A história da China Popular do Século XX e Os Intelectuais chineses e a China Maoísta, 1956-1957.
Guilhon Albuquerque diz que o fato de a China ser o único país comunista por tanto tempo é um fato marcante, já que, de maneira geral, todos os outros países que tentaram impor o regime, com exceção da Coreia do Norte, sucumbiram ou se tornaram regimes democráticos. O professor também explica que, após a Guerra Fria, as relações internacionais se tornaram mais imprevisíveis. “Agora, têm-se mudanças que são muito repentinas, antes era mais estável. Ainda não encontramos uma ordem mundial estável, estamos em uma transição pós-Guerra Fria sem data para acabar”, completa.
Shu Changsheng explica que, durante esses 70 anos, a China migrou de um Estado tradicional para um Estado moderno, sendo um período marcado por ruptura e continuidade. Ele esclarece que a ruptura faz menção ao fato de o poder do Estado, anteriormente, nunca ter alcançado o campo. Apenas com a Revolução Chinesa foi possível mobilizar toda a população e construir o Estado moderno.
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Guilhon cita a relevância da transformação econômica, bastante radical, do comunismo inicial para o comunismo do final do século 20. Implantou-se uma economia mais aberta, que usa o capitalismo, porém, se manteve o Estado totalitário. O pesquisador compara tal fato ao que ocorreu com a União Soviética, que entrou em colapso porque tentou mudar a economia sem mudar o Estado, diferente da China.
Changsheng diz que, entre as décadas de 80 e 90, o governo concedia espaço para que a população expressasse suas críticas. Ele também explica que a China é um país grande e diversificado, com grande diferença regional, cada Estado concorria um com o outro no desempenho econômico, o que abria espaço no setor econômico, fato que não existiu na União Soviética.