O mamute-lanoso foi extinto há mais de 5 mil anos, mas pode voltar a habitar o planeta Terra. Esse é o objetivo de uma empresa de biotecnologia dos Estados Unidos, que anunciou um investimento de mais de R$ 70 milhões para trazer o animal de volta à vida.
A intenção é combater as mudanças climáticas. Na hipótese dos cientistas, o mamute seria capaz de compactar o solo e modificar a vegetação de zonas congeladas. Assim, seria possível evitar o derretimento do gelo nesses ambientes e diminuir a emissão de gases de efeito estufa.
O professor Marcelo Demarchi Goissis, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, explica que os pesquisadores não buscam simplesmente ressuscitar o mamute, mas sim criar um animal híbrido com o elefante-asiático.
“A semelhança entre os genomas [do mamute e do elefante] é de 99,6%, então o que eles querem é gerar um elefante-asiático com modificações genéticas que vão levá-lo a ter características do mamute”, afirma. “Eles vão tentar gerar um animal próximo ao mamute, mas não seria uma clonagem de mamute propriamente dita”, esclarece.
Segundo Goissis, as experiências em pesquisas semelhantes indicam que os pesquisadores terão dificuldade em conduzir o projeto. “Não tem um trabalho na literatura que tenha feito sequer um embrião in vitro de elefante, eles terão que fazer um trabalho de base muito grande.”
Mesmo que superadas essas dificuldades, o professor ressalta o cuidado de atendimento veterinário que deve ser dado aos animais, principalmente para evitar problemas no parto, comuns em seres modificados.
Ética e Ciência
A proposta gerou um grande debate ético na comunidade científica. Em entrevista ao programa Fantástico, Ross MacPhee, paleontólogo do Museu Americano de História Natural, questionou a manipulação genética e os perigos da inserção de um animal modificado na natureza.
Na opinião de Goissis, do ponto de vista científico, a proposta é válida. “Como eles visam à melhoria do meio ambiente e da população como um todo, eticamente passa a ser mais aceitável”, diz. O professor aponta que as modificações genéticas têm sido regulamentadas, principalmente com fins alimentícios.
“Eu acho que é uma tecnologia importante de a gente dominar, mas tem que se usar com critérios para não colocar espécies que foram extintas de forma natural e que não tem necessidade de a gente trazer de volta”, acrescenta.
Para além dos possíveis benefícios ambientais, Goissis ressalta os avanços científicos que a pesquisa pode gerar, principalmente no casos de animais em extinção. “É uma ferramenta que pode ser usada para a preservação de espécies silvestres”, afirma. “No aspecto genético, também vai ser interessante para desenvolver ferramentas que podem ser úteis até no campo da medicina regenerativa”, conclui.
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