Programas de transferência de renda reduzem desigualdades, mas os tributos diminuem o benefício

Segundo Theo Ribas Palomo, é preciso aumentar a incidência dos impostos sobre a população mais rica e reduzir tributos sobre o consumo

 18/02/2022 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 21/02/2022 às 10:21
Uma reforma tributária precisa ser pensada no sentido amplo, de quais são as consequências de cada medida e cada ponto da reforma sobre a desigualdade de renda no País – Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
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Para redistribuir renda, o Estado brasileiro adota algumas estratégias como Previdência e assistências sociais e outros tipos de auxílio. O histórico dessas políticas ao longo do século 21, bem como seus impactos positivos e negativos, são tema de um estudo do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made) da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP.

Para traçar um panorama sobre a redistribuição de renda, Theo Ribas Palomo, pesquisador do Made e um dos autores do artigo, explica que a renda inicial, aquela que os indivíduos conseguem no mercado de trabalho, se alterou pouco ao longo do tempo. “Em todos esses 20 anos, a desigualdade brasileira do mercado de trabalho continua muito alta e relativamente constante”, afirma ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição.

Segundo Palomo, programas de transferência de renda como o Bolsa Família tiveram papel central na redução das desigualdades. Por outro lado, os tributos diretos, que incidem na renda e no patrimônio, como o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), tiveram um impacto pequeno.

“A desigualdade de riqueza é muito maior que a desigualdade de renda”, explica o pesquisador. “Quando a gente tem tributos que taxam a riqueza e não reduzem a desigualdade, quer dizer que há um grande problema no desenho desses tributos”, acrescenta.

Já os tributos indiretos, que incidem sobre o consumo, afetam principalmente as famílias mais pobres. O saldo final é negativo, pois os poucos benefícios dos tributos diretos não equilibram os prejuízos dos indiretos. “A tributação brasileira consegue aumentar uma desigualdade que já é muito alta e alarmante”, afirma Palomo.

Reforma tributária

Segundo o pesquisador, uma reforma tributária precisa ser pensada no sentido amplo, de “quais são as consequências de cada medida e cada ponto da reforma sobre a desigualdade de renda no País”.

Os tributos indiretos, que incidem sobre o consumo, afetam principalmente as famílias mais pobres – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

 

Esse cenário, de acordo com Palomo, pode ser alterado pela elevação progressiva do peso dos tributos diretos. Uma possibilidade, por exemplo, é aumentar a incidência do imposto de renda sobre a camada mais rica da sociedade, que, com manobras e isenções, paga uma alíquota menor que o resto da população. Também é necessário focar uma reforma da tributação indireta para “reduzir o peso desses tributos na população mais pobre”.

No âmbito dos programas de transferência de renda, o pesquisador afirma que há espaço para melhorias. Ele lamenta a extinção do programa Bolsa Família, que, segundo ele, era muito bem desenhado, apesar de não significar uma fonte de renda tão grande para as famílias mais pobres.

post atualizado em 21/02 às 10h20

Para conferir o estudo do Made na íntegra, basta acessar o link www.madeusp.com.br ou clicar aqui.

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