O futuro presidente terá um novo desafio. O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a previsão de crescimento da economia global, tanto em 2018 quanto em 2019, de 3,9%, de julho, para 3,7%. É mais um sinal de que os bons ventos na economia global podem estar perto do fim. Para o Brasil, a notícia é especialmente preocupante, porque o País ainda luta para se recuperar de sua pior crise econômica. Os motivos de preocupação são muitos: tensões com relação a uma guerra comercial global, resultados ruins na economia europeia e uma crescente dificuldade de países emergentes, num cenário com crédito mais escasso em virtude de aumentos nas taxas de juros de países como os Estados Unidos. O fundo cortou a previsão de crescimento americano de 2019, de 2,7% para 2,5%, e, da China, de 6,4% para 6,2%. No caso brasileiro, a previsão de crescimento em 2018 caiu de 1,8% para 1,4%.
O professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, explica que a globalização vem se retraindo. Um exemplo disso é expresso através dos Investimentos Diretos Estrangeiros (Ides), que em 2017 caíram 23% em comparação ao ano anterior, conta o professor. Isso demonstra apreensão das empresas multinacionais quanto ao comércio internacional, como reflexo do cenário político de diversos países que não são favoráveis. Os Estados Unidos (EUA), por exemplo, que são o bastião do sistema capitalista, estão adotando políticas protecionistas, que vão na contramão da globalização. Essas medidas tiveram forte impacto em outro gigante da economia global, a China, que reagiu com boicote a produtos norte-americanos. Esse embate comercial gerou, explica o economista, uma queda no comércio, mas as consequências serão vistas a longo e a médio prazo.
Do lado europeu, o impacto veio do Brexit, que marcou a saída do Reino Unido da União Europeia. O velho continente, graças ao seu bloco, que permite, além da livre circulação de capital e produtos, a circulação também de pessoas, é visto como um grande exemplo de globalização. Por isso, a saída do Reino Unido desse bloco mostra-se como um forte exemplo de retração do movimento de integração global. Além disso, houve forte impacto econômico também, com redução no Produto Interno Bruto (PIB), não só do Reino Unido, mas também da Europa.
Feldmann conta que, ao notar-se sinalizações de problemas econômicos nos EUA, China e Europa, pode-se esperar uma queda na comercialização internacional e, consequentemente, um baque na globalização, produzindo um movimento conhecido como “desglobalização”. Esse fenômeno traz fortes consequências também para as regiões emergentes como a América do Sul e o restante da Ásia, na medida em que, como regiões exportadoras, elas serão pegas em crises de superprodução ao perderem compradores nos países industrializados; as consequências disso são o desemprego estrutural, a insatisfação popular e o risco do surgimento de políticos demagogos e populistas, explica o professor.
Por fim, o economista fala sobre a situação brasileira. Ele conta que, nesses últimos três anos, já chegamos basicamente no fundo do poço econômico, com o crescimento do desemprego. Entretanto, há espaço para medidas serem tomadas, de modo a melhorar a situação fiscal brasileira e a questão do desemprego, que poderia ser resolvido com investimentos em infraestrutura. Ele afirma que, para a estabilização da economia nacional, são necessárias a reforma da Previdência e uma reforma tributária que taxe os mais ricos no Imposto de Renda.