A China retomou as importações de carne bovina do Brasil, que estavam suspensas desde 3 de junho. A interrupção teve como motivo a notificação de um caso atípico de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como doença da vaca louca, em Mato Grosso. Segundo o Ministério da Agricultura, “a doença foi confirmada em uma vaca de corte, com idade de 17 anos. Todo o material de risco específico para a doença foi removido do animal durante o abate de emergência e incinerado no próprio matadouro”. Para saber mais sobre como proceder em casos como esse, o Jornal da USP no Ar conversou com o professor Paulo Eduardo Brandão, do Departamento de Medicina Preventiva e Saúde Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP.
A doença da vaca louca é neurodegenerativa, atingindo o sistema nervoso central, e seus principais sintomas são paralisia de membros do animal e alteração de comportamento. O especialista afirma que a maior preocupação é o consumo humano da carne de gado contaminado e seu uso como subproduto para alimentação de outros animais: “Se a carne desse animal for consumida por uma pessoa, há riscos de que ela desenvolva sintomas parecidos, e se essa carne for usada na alimentação de outros animais, pode haver um surto. Uma medida sanitária importante é proibir o uso de derivados desses animais de abatedouro, que podem ser usados para fabricar ração ou farinha de ossos, por exemplo, para controlar a doença, evitando sua transmissão”.
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O especialista ressalta que casos eventuais, como esse que aconteceu no Brasil, podem acontecer em qualquer país do mundo. Esse caso foi endógeno e pontual, de acordo com Brandão, sendo que a doença é mais comum em animais mais velhos. “O caso atípico, como o que vimos aqui, acontece de modo espontâneo. Esses casos são muito diferentes dos típicos, que indicam surtos, como houve na Inglaterra e no Canadá há algum tempo. Por se tratar de uma doença genética crônica, os animais mais velhos são mais propensos a apresentarem a doença, porque o gene pode demorar para se manifestar”, explica.
A identificação da doença passa pelas etapas de suspeita clínica e confirmação laboratorial, para então serem realizadas as remoções de material de risco, abate e incineração, para evitar contaminações. No entanto, mais do que tomar essas medidas sanitárias básicas, é necessário realizar um trabalho preventivo. Uma das opções para evitar casos espontâneos é o melhoramento genético, que consiste na “seleção de animais que não tenham propensão a desenvolver a doença quando tiverem uma idade mais avançada, tirando da linha de produção o gado que seja mais suscetível. Isso é possível por meio de marcadores genéticos e seleções artificiais”, diz o professor. O uso dessa técnica pode evitar ou retardar a manifestação dos genes responsáveis pela encefalopatia no gado. Essa tecnologia já é utilizada amplamente em outros países, mas no Brasil ainda é necessário mais investimento.
Brandão também alerta para o fato de que “essa doença toma todos os recursos do Ministério da Agricultura, porque é de interesse econômico, por conta das exportações. Mas outras doenças, que são muito mais frequentes, foram negligenciadas em função da questão comercial. Um exemplo é a raiva, que é muito mais fácil de ser transmitida para humanos”. O especialista defende que medidas preventivas devem ser adotadas também contra outras patologias que não impactem muito a economia brasileira, mas que representem riscos à saúde pública.
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