Vinte e sete dos partidos políticos que fazem oposição ao regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, anunciaram que não participarão das eleições parlamentares marcadas para o dia 6 de dezembro. O grupo acusa fraude eleitoral e diz que Maduro violou o direito do povo venezuelano de eleger seus representantes. No entanto, Rafael Antonio Duarte Villa, professor do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, assegura que o boicote é uma tentativa de manter “espaço político”.
De acordo com o especialista, um resultado negativo nas eleições significaria para Juan Guaidó — líder desta parcela da oposição e reconhecido por mais de 50 países como presidente interino do país — a perda do único poder da Venezuela que está sob seu controle, a Assembleia Nacional. Atualmente, 112 de 167 assentos da casa pertencem à oposição.
Não é a primeira vez que partidos que fazem oposição ao regime de Maduro se abstêm de disputar eleições. Em 2005 e 2018, por exemplo, grupos oposicionistas boicotaram pleitos, apontando injustiças e fraudes no processo eleitoral, assim como em 2020.

“A oposição não devia deixar de participar. Um dos grandes desastres institucionais da Venezuela política de hoje começa quando, em 2005, a oposição se nega a participar. O espaço político foi monopolizado pelo chavismo. Uma nova abstenção traria o risco de que a oposição desapareça e deixaria à vontade o regime de Maduro”, analisa o especialista.
Entre as principais demandas do grupo oposicionista estão o direito ao voto para venezuelanos que estão fora do país e o acesso igualitário aos meios de comunicação públicos e privados. Além disso, os partidos que anunciaram a abstenção vêm criticando severamente o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), por aumentar o número de assentos da Assembleia Nacional de 167 para 277, em função de um suposto aumento demográfico da população. Villa aponta que tal crescimento demográfico não aconteceu e que, portanto, a decisão tem viés político.
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