A mortalidade infantil é um tema que preocupa há muito tempo não apenas o Brasil, mas o mundo inteiro. Suas principais causas estão associadas a duas condições no nascimento: a prematuridade do parto e recém-nascidos abaixo do peso ideal. Este foi o tema do relatório Lancet Global Health, apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e divulgado recentemente por especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres. Para tentar entender onde o Brasil está posicionado dentro dessa problemática e discutir quais os caminhos necessários a tomar, o Jornal da USP No Ar conversou com Lilian Sadeck, neonatologista do Centro Neonatal do Instituto da Criança e do Adolescente (ICr) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
Embora aparentemente parecidos, Lilian explica que existem diferenças entre os bebês prematuros e os abaixo do peso. A prematuridade é um fator que surge quando o nascimento ocorre com idade gestacional menor do que 37 semanas, então o bebê possui um peso baixo, mas é o esperado para aquele momento. Os recém-nascidos abaixo do peso são aqueles que nascem pesando no mínimo 10% a menos do que seria adequado para sua idade gestacional.

A doutora explica que, segundo dados de 2016, entre todos os nascimentos no Brasil, registrou-se peso abaixo do ideal em 9,2% dos casos. Isso inclui tanto prematuros quanto recém-nascidos de peso baixo para sua idade gestacional. Apesar de serem circunstâncias diferentes, o caminho para impedir que ambas levem à mortalidade infantil é a atenção ao pré-natal.
A captação de gestantes ainda no primeiro trimestre para que se possa realizar um acompanhamento com diversas consultas ao longo dos nove meses é fundamental. Lilian explica que, caso as consultas e o acompanhamento sejam feitos com qualidade, é possível detectar fatores de risco para a prematuridade ou o baixo peso, e pensar qual a melhor forma de intervir. “A maioria desses casos pode ser tratada e minimizados os riscos se fizermos um bom pré-natal e uma boa atenção no momento do nascimento dessas crianças”, complementa.
O relatório da ONU indica a necessidade de o Estado subsidiar mais políticas públicas para enfrentar esse problema. A doutora explica que, além da atenção básica e primária à gestante por parte do Sistema Único de Saúde (SUS), deve haver um foco no grupo de mães mais vulneráveis. Este grupo é formado por mães adolescentes, principalmente abaixo de 15 anos, e mais velhas, acima de 35 anos. O hábito de tabagismo e o consumo de álcool e drogas ilícitas também interferem no desenvolvimento do feto e colocam a gestante em situação vulnerável. Além disso, Lilian explica que gestantes de baixa renda e escolaridade estão inseridas em um meio onde há dificuldade de acesso ao sistema de saúde e desvalorização do pré-natal, o que as inclui no grupo de risco.
Assim, a especialista mostra que é imprescindível que o SUS faça um bom acompanhamento do pré-natal, sobretudo das gestantes desse grupo. Esse atendimento possibilita uma integração em rede na saúde pública, onde um quadro de gestação de alto risco percebido no pré-natal pode ser encaminhado para tratamento em locais com atendimento especializado. “Esse problema não é um assunto resolvido, ainda, mas sabemos como resolvê-lo”, conclui.
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