Em meio a mais de 230 mil vidas perdidas para a covid-19, o humor é uma das formas de lidar com a pandemia no Brasil e expressar o luto coletivo, mas também representa uma negação dos fatos, aponta artigo publicado no Nexo Jornal. Nas redes sociais, ao mesmo tempo que surgem relatos angustiantes sobre a experiência da maior crise sanitária em um século, também circulam memes humorísticos banalizando a situação. Segundo especialista, há uma linha tênue entre o que de fato é luto e a contradição da realidade.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, Monique Oliveira, pesquisadora e doutoranda da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e autora do artigo, explica que, ao observar a forma como os brasileiros lidam com a pandemia, em meio à negação científica, à abstenção e desinformação, questiona-se como o luto pode mediar a forma que se enxerga a pandemia. “Há muita controvérsia científica. É como se a gente tivesse saído do fato, como se não incidisse sobre nós da mesma maneira. Quando falo sobre o luto, é no sentido de perceber qual a mediação desse aspecto na maneira como a gente percebe a pandemia.”
Imagens do luto
Conforme Monique, o luto age de formas diferentes e particulares. Numa pandemia, não agir é também fazer algo, já que configura uma decisão. No Brasil, o humor permeia a percepção do luto na sociedade. Mesmo com milhares de mortes diárias, circulam piadas na internet sobre a situação no País. Contudo, simultaneamente, o humor é uma forma de afirmação, como se os brasileiros já conhecessem a tragédia.
O sars-cov-2 proporciona experiências diferentes das já vividas pelos brasileiros. Apesar de haver doenças comuns no País, como a dengue, objeto de estudo da pesquisadora, a covid-19 impõe o elemento de distanciamento social e o momento nunca antes vivido leva a população a agir de diferentes formas em relação ao luto. Para Monique, é essencial ter elementos culturais e simbólicos para que as pessoas elaborem o luto segundo a realidade e não banalizem o dia a dia.
“Não é só uma questão individual, não é só viver o luto individual. Temos um processo coletivo de como vamos criar elementos culturais e simbólicos para que a gente consiga viver essa experiência, que foi muito traumática para muita gente, até que consigamos vivenciar os fatos reais e depois agir a partir da constatação dos fatos”, finaliza a pesquisadora.
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