“É irresponsável levantar expectativas de desenvolvimento”, diz economista

Organizações internacionais preveem crescimento em torno de 2% para Brasil em 2020, mas Paulo Feldmann é cético

 28/11/2019 - Publicado há 5 anos
Logo da Rádio USP

Enquanto reduz a previsão do crescimento da economia mundial, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que o Brasil crescerá 1,7% em 2020. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê 2%. O mundo desacelera por vários motivos. Entre eles estão o conflito comercial entre China e Estados Unidos, a saída do Reino Unido da União Europeia e a queda de ritmo do mercado chinês, enumera o economista Paulo Feldmann, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP.

Para o especialista, é irresponsável levantar expectativas de desenvolvimento a esse patamar. “A um governante ou ministro da Fazenda é muito importante anunciar que, no próximo ano, haverá melhoras”, declara. Este ano, segundo a OCDE, o Brasil cresce 0,8%, uma recessão técnica. Porém, Feldmann argumenta que uma previsão inflada pode estimular as pessoas a investirem um dinheiro que não têm.

Se não forem tomadas medidas para estimular o emprego, não existirá desenvolvimento, de acordo com o economista. Apesar da edição da Medida Provisória (MP) da Carteira Verde e Amarela, grande parte da população fica descoberta, já que a iniciativa abrange jovens com idades entre 18 e 29 anos. No último levantamento do IBGE, eram 40 milhões de pessoas trabalhando no mercado informal. Feldmann aponta que, nos últimos dois anos, essas pessoas tiveram uma perda de renda de quase 10%.

Paulo Roberto Feldmann, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O professor reclama também da cartelização das instituições bancárias e da leniência do Banco Central. O BC limitou ontem a taxa de juros até 8% ao mês, cerca de 151% ao ano, mas permitiu a cobrança de uma taxa pelo serviço. No mercado, a taxa média atual é de 12% mensais. “Nos países com uma inflação semelhante ao Brasil, bancos cobram 2%, 3%, no máximo, de juros sobre o cheque  especial”, conta. Mais de 60% da população brasileira está endividada, segundo o último levantamento do SPC Brasil.

Até agora, as medidas do governo de Jair Bolsonaro e do ministro Paulo Guedes são todas paliativas, para Feldmann. Ele ressalta a importância de investimento na construção civil, na infraestrutura e nas pequenas empresas, que são grandes geradores de postos de trabalho.

Ouça a entrevista na íntegra no player acima.


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.