Acompanhe a entrevista da jornalista Sandra Capomaccio com o professor Pedro Dallari (IRI-USP):
Um dia depois da posse de Donald Trump, as mulheres saíram às ruas de cidades americanas para protestar. A maior marcha ocorreu no sábado (21), em Washington, e reuniu mais de 1 milhão de pessoas, de acordo com estimativas. Manifestações semelhantes aconteceram em Londres, Sydney, Paris e Buenos Aires, o que, para o professor Pedro Dallari, diretor do IRI (Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo), significam o reflexo de uma era em que a democracia não se resume apenas a um processo eleitoral, “em que o eleitor recebe uma espécie de cheque em branco para fazer dele o que bem entender”. Nos tempos que correm, as sociedades tornaram-se muito participativas.
“Há, hoje, claramente, uma dinâmica de empoderamento dos indivíduos e um fortalecimento da chamada sociedade civil, e os governantes, por mais que tenham a legitimidade eleitoral, não dispõem da autonomia da qual desfrutavam anteriormente e têm de conviver com esses grupos de pressão”, explica Dallari. Ou seja, o recém-eleito Donald Trump não terá outro jeito a não ser fazer concessões às demandas da sociedade norte-americana, o que não deixa de ser curioso, “porque Trump acabou sendo eleito como expressão da reação da sociedade à mesmice, ao isolacionismo e ao mandonismo da política tradicional”, diz o diretor do IRI. Com isso, o próprio Trump torna-se alvo dessa reação da sociedade, na medida em que passa a incorporar a liderança política, transformando-se, portanto, em vítima de seu próprio remédio.
Nesta entrevista concedida à Rádio USP, Dallari também comenta o discurso de posse do bilionário norte-americano, que considerou agressivo e incisivo, à medida em que reafirma propostas e preocupações veiculadas quando ainda era candidato à presidência dos Estados Unidos, tornando inócua a tese de que o Trump presidente seria diferente do Trump candidato, uma vez que parece disposto a levar às últimas consequências as promessas de campanha.