Esta semana, o governo brasileiro comunicou oficialmente a retirada da sua candidatura para sediar a COP 25 – a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas –, que seria realizada em 2019 no País. A decisão surpreendeu a todos, pois o Itamaraty trabalhou intensamente durante um ano para convencer os países da América Latina — a quem cabe sediar a próxima Conferência — a aprovar a candidatura. Havia uma oposição por parte da Venezuela, mas um amplo trabalho diplomático fez com que ela aceitasse a indicação do Brasil.

A Conferência das Partes ocorre anualmente e faz parte da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças no Clima. Uma das justificativas para a retirada da candidatura por parte do Brasil foi que há restrições fiscais e orçamentárias. Contudo, o presidente eleito Jair Bolsonaro disse que estaria circulando nessas reuniões a criação do Corredor Triplo A: uma área internacional de preservação ambiental que começaria nos Andes, passaria pela Amazônia e chegaria até o Atlântico. Porém, o tema não foi levantado nas COP em momento algum. Além disso, Bolsonaro, ao longo de sua campanha, defendeu a saída do Brasil do Acordo de Paris, assinado por 195 países para reduzir o aquecimento global. O Congresso Nacional referendou a participação brasileira e, no caso de saída, deverá aprovar ou não. A participação no acordo é de forma voluntária e não há interferência de outros países em questões internas, são indicadas apenas medidas que pretendem ser adotadas visando ao objetivo.
O Jornal da USP No Ar conversou com Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade, além de ser coordenador da Rede Internacional de Estudos Sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade e de participar do Projeto Temático Fapesp Governança Ambiental da Macrometrópole Paulista face à Variabilidade Climática. Segundo Côrtes, a oportunidade de receber a COP 25 era única e vantajosa. “Desde a ECO 92, nós temos um protagonismo ambiental bem significativo em termos internacionais. Seria muito interessante a COP 25 porque viria uma série de pesquisadores e formuladores de políticas públicas e, inclusive, representantes de fundos de investimentos internacionais que estão interessados em aplicar dinheiro no Brasil, mas não gostariam de ter a sua atividade associada a algum problema ambiental. Essa oportunidade de sediar a conferência abriria uma vitrine muito grande para mostrar que temos bons projetos ambientais.”

Atualmente, o presidente da França, Emmanuel Macron, tenta um acordo comercial com o bloco do Mercosul, mas já afirmou que é contra assinar parcerias amplas com países que não respeitam o Acordo de Paris. Segundo o professor Cortês, tanto essa sinalização de direção contrária quanto a retirada da organização da COP no ano que vem acendem um alerta sobre as diretrizes brasileiras. “Isso vai ter uma repercussão nas nossas exportações. A gente está abrindo a possibilidade de adoção de barreiras não tarifárias e falta uma visão estratégica do próximo governo sobre quais os impactos dessas medidas. Não podemos abandonar um fórum de discussão organizado pela ONU e que tem participação de todos os países. Com a saída, você deixa de exercer um protagonismo e passa a chamar atenção para práticas não muito adequadas.”
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