Um estudo recente constatou que, apesar de o número de cirurgiões torácicos brasileiros estar dentro de parâmetros aceitáveis, a distribuição é extremamente desigual. O objetivo do estudo era avaliar a força de trabalho dessa especialidade. Esse levantamento é fundamental para aqueles que formulam as políticas de saúde brasileiras, permitindo saber quais as maiores dificuldades que esses profissionais encontram no desempenho de suas funções. A pesquisa foi realizada pela internet, por meio de um questionário respondido por mais de 80% dos cirurgiões torácicos de todo o Brasil. Para falar sobre o assunto, o Jornal da USP no ar conversou com o professor Miguel Lia Tedde, da disciplina de Cirurgia Torácica do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
De acordo com o professor, existe um investimento grande do Estado na formação dos cirurgiões torácicos, que apresentam formação tão boa quanto qualquer outra região do mundo. O problema está na alocação desses profissionais, que acabam concentrados em certas regiões, enquanto em outras há defasagem. “Há uma certa dificuldade em levar médicos para algumas regiões do País.” Ele ressalta que esse problema também acomete os especialistas em atenção básica, a exemplo dos problemas enfrentados recentemente com a saída dos médicos cubanos do programa Mais Médicos.
“Na região Sudeste, a gente tem número adequado, ou até aumentado. Por exemplo, São Paulo e Rio Grande do Sul tinham número maior de cirurgiões torácicos do que teoricamente seria indicado, e na região Norte e Nordeste em geral tende a haver um número menor do esperado para esses profissionais”, explica o especialista. “Isso reflete basicamente a falta de uma política de formação e alocação desses profissionais.” Segundo ele, o ideal seria se houvesse uma política para calcular a população e realocar esses profissionais, formando-os de acordo com esse planejamento.
Os Estados que mais dão formação aos cirurgiões torácicos são os que mais concentram esses médicos depois de formados. O professor reforça a ideia de deslocamento desses centros formadores para áreas que careçam desses profissionais. “Existe uma tendência de o especialista acabar ficando onde ele ficou um período longo para fazer a sua formação.”
O professor destaca ainda a necessidade de os médicos estarem constantemente se atualizando e adaptando os métodos para a prática da medicina em cada local. Para ele, os cargos que envolvem saúde no governo devem ser preenchidos por profissionais próprios da saúde, a fim de estabelecer medidas voltadas para a melhoria da área. “A chance de erro seria menor se todo o pessoal for pessoal técnico, e não político.” Ele explica que muitas vezes o cirurgião está apto a realizar os procedimentos com sucesso, mas faltam condições e aparato técnico para realizar o seu trabalho, principalmente no setor público.