Atraso na maturação imunológica das crianças pode ser herança da pandemia da covid-19

De acordo com artigo de Magda Carneiro Sampaio e Brain Lucas Sousa, a alta no número de casos de infecções respiratórias em crianças pequenas é reflexo do atraso da maturação imunológica

 12/07/2023 - Publicado há 1 ano
Magda Carneiro Sampaio alerta que o aumento de infecções respiratórias em crianças tem sido motivo de grande preocupação em famílias e em departamentos de pediatria -Foto: Freepik
Logo da Rádio USP

Artigo revela os reflexos da pandemia da covid-19 na dinâmica de infecções respiratórias em crianças pequenas, aumentando o número de casos. Uma das razões apontadas para esse fenômeno foi a falta de contato com o mundo exterior necessária para o enfrentamento do coronavírus. 

O estudo foi realizado pela professora Magda Carneiro Sampaio do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e o pesquisador Brain Lucas Sousa do Departamento de Pediatria da FMUSP. Ambos declaram que os efeitos serão resolvidos com o tempo, porém, a vacinação e atenção redobrada são necessários para evitar quadros mais graves. 

Magda Carneiro Sampaio – Foto: Reprodução

Herança da pandemia 

A professora comenta que esse cenário de aumento de infecções respiratórias em crianças tem sido motivo de grande preocupação em famílias e em departamentos de pediatria. Magda explica que as doenças virais são as causas mais comuns das buscas por ajuda médica pediátrica abaixo dos cinco anos. 

“Isso acontece porque cada vírus que a criança entra em contato é um vírus novo e o sistema imunológico é, nesse ponto, parecido com o sistema nervoso, ele aprende e guarda memória”, ilustra a professora. Assim, o sistema imune, ao reagir após o primeiro contato com o vírus, desenvolve uma resposta após o quadro infeccioso, processo conhecido como “maturação imunológica”. 

Nesse sentido, com a adesão a medidas sanitárias essenciais para o combate da pandemia, como o isolamento social e a paralisação das escolas, não apenas o coronavírus deixou de ser transmitido, como outros vírus respiratórios também deixaram de circular. E, conforme as políticas de enfrentamento da pandemia foram se flexibilizando, as crianças passaram a ter contato com inúmeros microrganismos desconhecidos até então. 

“O sistema imune delas não conhecia nenhum desses vírus e não tinha memória para o enfrentamento desses. Foi justamente aí que começou esse período com o número enorme de infecções”, informa a professora. Ela ainda ressalta o surto de infecções pediátricas no Amapá, em maio deste ano. 

Análise da situação

O pesquisador Brain Lucas Sousa conta que a percepção do atraso na maturação imunológica desencadeada pela pandemia e sua relação com a alta nas infecções respiratórias em crianças pequenas se deu pelo trabalho diário em hospitais pediátricos. Além disso, notou um desaparecimento da sazonalidade das doenças, uma vez que não houve uma época específica para o aparecimento dos casos. 

“Eu trabalho em pronto-socorro pediátrico e a gente percebeu essa explosão absurda do número de casos, principalmente, de internações de crianças por causas respiratórias em 2021 e, especialmente, em 2022”, declarou Sousa. Ele também compara a grande diferença entre o número de casos no pré e pós-pandemia, além das horas de espera na fila por atendimento. 

A professora Magda estabelece ainda que essa superlotação ocasionada pelo atraso na maturidade imunológica não se trata de uma especificidade brasileira, mas um fenômeno observado mundialmente. 

Possíveis soluções

Magda comenta que essa “dívida imunológica” vai ser paga apenas com o tempo. Por outro lado, alerta que parte da situação também se deve à falta de vacinação contra determinadas doenças, como a vacina contra a gripe e a pneumococo. A professora esclarece que pneumococo é uma bactéria que pode complicar uma virose e até mesmo uma pneumonia. “É muito importante que as pessoas voltem à adesão às vacinas que sempre foi tão tradicional no Brasil e o País tem o Ministério da Saúde que oferece um esquema extraordinário de vacinas”, reforça.  

Magda ainda chama atenção para as doenças para as quais não existem vacinas ainda, como é o caso do agente da bronquiolite, o vírus sincicial, que é muito grave para crianças. Assim, a boa alimentação e hidratação são essenciais. 

De acordo com Sousa, em 2023 já é possível observar os efeitos da pandemia amenizando em termos de gravidade e a sazonalidade dos casos e os próximos anos serão cruciais para o entendimento desse cenário. No entanto, há uma tendência prevista no estudo dos “filhos da pandemia” terem uma predisposição a alergias.


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.