Quando se fala em segurança pública, fica impossível não falar na Cracolândia, região central da cidade de São Paulo. Só para se ter uma ideia, apenas no primeiro semestre de 2024, segundo dados do painel de monitoramento das cenas de uso de drogas, mantido pela Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SMSU), em média mais de 400 pessoas circulavam pelas zonas de aglomeração em cada período do dia. São Paulo caminha junto com a Cracolândia: usuários de drogas, traficantes, desocupados, batedores de carteiras, bolsas e celulares, todos juntos e misturados.
Administrar o fluxo dessa região não é algo simples, por isso se torna o grande desafio da Prefeitura da principal capital do País. O criminologista Maurício Stegemann Dieter, professor de Direito Penal da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, especialista político-criminal em repressão, avalia que a região envolve mais do que a geografia da cidade, mas de pessoas com perspectivas diferentes.
A internação compulsória é uma medida de privação de liberdade extremamente grave e só deve ser mobilizada a pretexto de devolver a liberdade e não de tratamento de saúde, a única justificativa seria a alienação em último grau. O acadêmico cita um trecho do psiquiatra Thomas Szasz, que diz que trabalho à força é escravidão e sexo à força é estupro”, o mesmo se encaixa para tratamento à força, que não necessariamente é um tratamento.
Migração
As operações são criticadas por movimentos sociais. Ativistas acusam as forças de segurança de agirem com violência contra usuários de drogas, espalhando-os pela cidade. A Cracolândia ficou localizada por muitos anos na Rua Helvétia. Ações policiais no local, porém, fizeram os usuários migrarem para a Praça Princesa Isabel diversas vezes. Em 2017, porém, depois de uma operação das forças de segurança, os usuários foram retirados do local e acabaram se espalhando pelo centro. Atualmente, eles estão mais concentrados no cruzamento da Rua Conselheiro Nébias e Rua dos Gusmões.
O programa de Braços Abertos foi o mais eficaz, porque apresentou uma proposta que incluiu o pilar política habitacional, saúde e ocupação profissional.
O psiquiatra Arthur Guerra, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, especialista em álcool e drogas, explica que a ação na Cracolândia deveria ser de Estado e não de governo a cada quatro anos. Guerra foi coordenador de ações na região e diz que existem políticas de enfrentamento, mas a questão vai muito além do uso de drogas.
Desde 1990, cerca de 20 administrações públicas fizeram tentativas para resolver a questão, mas nenhuma foi bem-sucedida. Atualmente, a cidade de São Paulo possui 72 Cracolândias e não apenas uma no centro, segundo a Secretaria Municipal de Segurança Urbana.
Jornal da USP no Ar
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.