Rever política de financiamento rural pode promover menor impacto ambiental

Silvio Candido explica como mexer na distribuição de verba para gado geraria impacto na sustentabilidade da produção de carne

 Publicado: 17/02/2025 às 11:27
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Imagem de um pasto onde se veem um cavalo, três ovelhas e um gado bem ao fundo
O modelo atual de financiamento rural também tende a beneficiar médios e grandes produtores em detrimento dos micros e pequenos, aprofundando ainda mais a desigualdade rural – Foto: Carlos Nabinger – Pesquisador
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A produção de carne bovina é uma das atividades com maior impacto ambiental no Brasil. Milhares de hectares são desmatados todos os anos para se tornarem área de pasto, e o próprio gado emite metano, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa. 

Paradoxalmente, mudar a maneira como o País financia a pecuária pode ser a chave para promover modelos de criação bovina diferentes, com menor impacto ambiental e avançando no sentido da produção sustentável, que busca compensar a emissão de carbono e outros gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera. Silvio Candido, professor da UFSCar e pesquisador parceiro da Cátedra Josué de Castro da Faculdade de Saúde Pública da USP, explica melhor a relação entre verba e impacto.

De onde vem o dinheiro?

Homem branco, ainda jovem barba e bigode, vestindo camisa de cor escura
Silvio Eduardo Alvarez Candido – Foto: ufscar

Conforme explica Candido, no Brasil apenas metade da verba que financia a produção de gado bovino vem dos produtores. A outra metade vem da política pública de financiamento rural, que destina dinheiro estatal e de outros bancos para os produtores rurais. “Em 2023, por exemplo, a quantia foi de cerca de 60% do PIB agropecuário. Ao longo dos últimos anos, a parcela  dos bancos [que realizam o financiamento] tem se ampliado, sobretudo devido a restrições fiscais,” exemplifica.

Essa maneira de destinar verbas indiscriminadamente aos produtores promove a improdutividade, porque na maioria dos casos a pecuária é utilizada mais como justificativa de ocupação de terras do que uma atividade que enfatiza o alto desempenho, operações eficientes e resultados.

“O mais grave é que ela é o principal vetor de desmatamento ilegal de importantes biomas brasileiros, como o Cerrado e a Amazônia. Isso gera impactos dramáticos também sobre serviços ecossistêmicos, a biodiversidade e os direitos humanos de populações tradicionais. O crédito rural tende a promover esse modelo, porque não condiciona os empréstimos a melhorias produtivas significativas”, argumenta Candido.

Segundo o professor, o modelo atual de financiamento rural também tende a beneficiar médios e grandes produtores em detrimento dos micros e pequenos, aprofundando ainda mais a desigualdade rural.

Inverter a lógica

Mudar o destino da verba pública alocada e estabelecer filtros nos programas de financiamento pode mudar o cenário atual. É preciso interromper empréstimos para os produtores envolvidos no desmatamento ilegal, na invasão de áreas protegidas e na lista suja do trabalho escravo. A criação de programas federais visando à sustentabilidade também é de vital importância para a transição:  “Avanços básicos, mas importantes, já aconteceram nas últimas décadas, como a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O Programa Agricultura de Baixo Carbono (agora chamado RenovaAgro) indica um caminho promissor: o de vincular a concessão do crédito à adoção de tecnologias mais sustentáveis. Entretanto, na última década ele concedeu, em média, somente 2% do total do crédito rural”, explica Candido.

“Toda a oferta de crédito rural deveria ocorrer em seus moldes e seria fundamental que mais tecnologias associadas à pecuária regenerativa fossem incluídas no programa. Para que a parcela do crédito rural concedida aos pequenos produtores se amplie é fundamental que essa política se articule com a de assistência técnica para esse público, que precisa ser fortalecida”, finaliza o pesquisador.


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