Reitores e pesquisadores pensam desafios e papéis da Universidade do futuro

O debate, organizado pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, está inserido na programação da Intercontinental Academia, que é um projeto de cooperação acadêmica internacional interdisciplinar e singular no universo científico.

 29/04/2015 - Publicado há 9 anos
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No evento, inserido na programação da Intercontinental Academia, foi discutido o futuro das universidades, seus desafios e perspectivas, tomando como base as experiências destes conferencistas como gestores e os projetos que implementaram ou idealizaram para universidades

 

Inclusão das tecnologias no ensino, integrar a universidade no campo social da educação, mudanças na Graduação e como continuar a ser um ambiente de constante busca do conhecimento foram os principais temas abordados por reitores e pesquisadores da educação superior no debate “A Universidade do Futuro”, organizado pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, no âmbito da programação da Intercontinental Academia, e realizado na tarde do dia 24 de abril, na sala do Conselho Universitário.

A primeira parte do evento teve a exposição de reitores e gestores de universidades. O pró-reitor de Infraestrutura da Universidade de Birmingham, John Heath, trouxe sua expertise do sistema de educação na Europa, contando que na Universidade do Reino Unido são ministradas aulas on-line com a interação de alunos de lá, dos Estados Unidos, de Hong Kong e do Canadá. Sendo que, para ele, o futuro já chegou à universidade com o meio digital e com a inclusão cada vez mais das tecnologias na educação. “Aquela aula só com o professor falando aos alunos estará no passado. Pois, hoje, os professores não são proprietários do conhecimento. Eles podem orientá-lo, moderálo, mas não são autoridades que vão mostrar o conhecimento, eles vão atuar como mediadores”.

Na apresentação do reitor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Naomar de Almeida Filho, ele destacou os futuros possíveis para as universidades no Brasil, dizendo que para pensar sobre educação superior no País é preciso também lembrar da realidade brasileira, na qual existem desigualdades sociais. “Quem pode pagar não paga e quem não pode, paga”, ressaltou referindo-se ao ingresso dos mais ricos nas universidades públicas brasileiras.

Interdisciplinaridade

O ex-reitor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Luiz Bevilacqua, defendeu que a universidade deve ser um lugar onde a aprendizagem é prioridade, em que deve haver uma maior relação entre docentes e discentes, com mais estudos e menos horas de aula. Outra questão abordada por ele foi a interdisciplinaridade. “A convergência interdisciplinar deve chegar aos cursos de Graduação também, assim como já está nas pesquisas. Mas a interdisciplinaridade é consequência e não causa”, destacou Bevilacqua.

“Para falar do futuro, é preciso falar também da universidade do passado”, explicou o atual reitor da UFABC, Klaus Capelle. Ele fez um breve histórico da instituição, do início na Idade Média, em que a universidade era a grande depositária do conhecimento, passando pela época na qual começou a ter como missão o ensino e pesquisa, há mais ou menos 200 anos e, há uns 30 anos, quando foi cobrada também a realização da extensão, como uma forma de justificar o gasto da sociedade com as universidades públicas, por exemplo. Depois, citou que hoje é exigido ir além do tripé de ensino, pesquisa e extensão, com o incentivo ao empreendedorismo, internacionalização, interdisciplinaridade, sustentabilidade, inclusão social, inovação e educação a distância. E, para o futuro, disse pensar que a universidade terá cada vez mais atribuições diferentes, fazendo uso maciço da internet e tendo estruturas acadêmicas pedagógicas mais flexíveis.

“A universidade, mesmo quando não quer, já está participando das mudanças. E nós, das universidades, já estamos vivendo este processo de mudança com o uso das tecnologias digitais”, disse o presidente da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), Carlos Vogt. Ele aproveitou para falar do projeto da Univesp, que é uma universidade pública que tem como princípio o uso das tecnologias de informação e formação – criada pela Lei nº 14.836, de 20 de julho de 2012 –, cujos conteúdos dos seus cursos estão disponíveis pela internet e já teve mais de 30 milhões de visualizações, como exemplo de possibilidade e alternativa para o futuro da universidade.

Manter a excelência

O reitor da USP, Marco Antonio Zago, lembrou que a universidade é um ambiente de constante busca do conhecimento, no qual se aprende fazendo, com crítica de pensamento. Zago leu uma parte do Decreto de criação da USP, nº 6.283 de 25 de janeiro de 1934, diretamente do seu celular, no qual estão os fins da Universidade, para mostrar os objetivos dela no seu início e exemplificar uma das mudanças tecnológicas (o acesso aos conteúdos por dispositivos móveis) que a universidade pode incorporar ainda mais nas suas atividades. E colocou um questionamento sobre o futuro da universidade: “Como garantir o acesso à universidade, de forma a garantir também a qualidade e sua excelência? Pois, aumentando a excelência, melhora a qualidade da universidade; e aumentando a inclusão das pessoas na universidade, melhora a competividade da sociedade”.

A segunda parte contou também com a participação de debatedores: da presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader; do professor do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Marcelo Knobel; com moderação da jornalista especializada em educação, Sabine Righetti. Eles colocaram em pauta assuntos como as universidades brasileiras podem incorporar a globalização sem esquecer as suas individualidades e como valorizar o ensino da Graduação, entre outros.

Após as várias questões levantadas no evento, as considerações foram de que não existe um modelo universal de universidade, já que nem todas as universidades vão realizar todas as funções, mas a instituição precisa ter clareza do seu projeto pedagógico. Porém, a universidade não pode ficar à parte da sociedade e deve pensar em como garantir o acesso a ela, de uma forma que mantenha também a sua qualidade e excelência.

(Foto: Ernani Coimbra)


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