Descobertas na luta contra a diabete representam um avanço, mas pesquisas devem prosseguir

Referindo-se a experimentos realizados por pesquisadores chineses, Maria Elizabeth Rossi afirma ser ainda cedo para falar em cura, já que são procedimentos muito recentes

 16/10/2024 - Publicado há 5 meses
Imagem de um marcador de glicose, usado por pessoas que têm diabetes
São procedimentos recentes, de um a dois anos de duração, com bons resultados, mas não se pode ainda afirmar que a diabete foi curada – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
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Pesquisadores chineses têm surpreendido o mundo com avanços promissores no tratamento da diabete. Recentemente, cientistas da Universidade de Pequim afirmaram ter desenvolvido uma terapia com células-tronco que, segundo eles, resultou na cura da diabete tipo 1 em uma jovem de 25 anos. Em Xangai, outra equipe divulgou uma conquista no tratamento experimental da diabete tipo 2, em um homem de 59 anos, usando transplante de células pancreáticas.

A professora Maria Elizabeth Rossi, endocrinologista e chefe do Laboratório de Investigação Médica da USP, comenta o assunto. Segundo ela, é cedo para falar em “cura”. “São procedimentos recentes, de um a dois anos de duração, com bons resultados, mas não podemos ainda afirmar que a diabete foi curada. Podemos falar em controle da glicemia, já que o tempo de observação é muito curto”, explica a especialista.

Diabete tipo 1 é uma doença autoimune, na qual o sistema imunológico destrói as células beta, responsáveis pela produção de insulina. Já no tipo 2, a doença está relacionada ao envelhecimento e ao estilo de vida, e o corpo ainda produz insulina, mas ela não funciona de forma eficaz. A professora destaca que esses tratamentos experimentais são diferentes e voltados para públicos específicos.

Maria Elizabeth Rossi Da Silva – Foto: Arquivo Pessoal

No caso do tratamento para diabete tipo 1, realizado em Pequim, as células-tronco foram extraídas do tecido adiposo da paciente, tratadas quimicamente e reintroduzidas em seu corpo, onde foram capazes de produzir insulina. “Durante um ano, essa produção foi suficiente para que a paciente não precisasse de injeções de insulina, o que é um grande avanço. No entanto, falar em cura ainda é precoce”, ressalta a professora.

Sobre diabete tipo 2, a terapia aplicada em Xangai envolveu o transplante de células pancreáticas. Embora a doença seja menos agressiva, no caso desse paciente os tratamentos convencionais não estavam surtindo efeito, o que o aproximou do quadro de diabete tipo 1, necessitando de insulina constante. “Diabete tipo 2 afeta muito mais pessoas e, inicialmente, pode ser tratado com medicamentos que aumentam a produção ou melhoram a eficácia da insulina”, explica a médica.

Impactos nos tratamentos

Maria Elizabeth destacou que esses novos tratamentos não são soluções amplamente acessíveis. “São procedimentos caros, que requerem uma equipe altamente especializada. Não é algo que possa ser aplicado de forma populacional. No Brasil, cerca de 10% da população é afetada por diabete, e não temos condições de oferecer um tratamento tão individualizado”, comentou.

Além do custo elevado, a especialista alerta para complicações que podem surgir com esses tratamentos experimentais, como infecções ou rejeição dos tecidos transplantados. “No caso de diabete tipo 1 é necessário o uso de imunossupressores, o que pode causar efeitos colaterais graves”, ela aponta.

Um ponto de preocupação mencionado pela professora é o uso de células pluripotentes, que têm a capacidade de se transformar em diferentes tipos de tecido. “Há o risco de que essas células se transformem em tumores. Embora os pesquisadores tenham realizado muitos testes em animais, ainda é cedo para garantir total segurança”, afirma ela.

Mesmo com todos esses desafios, a especialista reconhece que esses estudos representam passos importantes para a ciência. “Estamos vendo novas abordagens para o tratamento de uma doença que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. É um avanço significativo, mas precisamos de mais tempo e pesquisas para entender as implicações a longo prazo”, disse.

Por fim, ela ressaltou a importância da prevenção, especialmente no caso de diabete tipo 2. “Embora os avanços sejam promissores, o ideal é evitar que a doença se desenvolva. Mudanças no estilo de vida, como alimentação saudável e prática de exercícios físicos, são fundamentais para prevenir diabete”, concluiu. A entrevista deixou claro que, embora os avanços científicos sejam empolgantes, ainda há muitas barreiras a serem superadas antes que esses tratamentos possam ser amplamente adotados. “O caminho é promissor, mas ainda temos muito a aprender”, finalizou a professora Maria Elizabeth Rossi.


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