Intervenção na Cracolândia precisa considerar história, experiência urbana e social

Pesquisadores alegam ser preciso assegurar a possibilidade de permanência e garantia de direitos das pessoas e coletivos que compõem aquele tecido urbano

 07/10/2024 - Publicado há 5 meses     Atualizado: 23/10/2024 às 11:35
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Imagem mostra moradores da região da Cracolândia, retratando a situação precária de existência em que vivem
Do ponto de vista da Segurança Pública, seria necessário diminuir o nível de violência que é infringida contra essas pessoas – Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
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Há anos os usuários de drogas e o local onde moram, identificado como Cracolândia, são desafio para a cidade de São Paulo. A insegurança e a falta de infraestrutura no local fazem com que o medo impere na região, uma vez que agora esses dependentes químicos, que antes ficavam todos juntos em um único local, circulam por diversos espaços no centro da cidade. Giordano Magri, pesquisador Júnior do Centro de Estudos da Metrópole da USP (CEM) explica que esse espalhamento é uma estratégia de Segurança Pública. “É preciso entender que hoje esse espalhamento das cenas de uso pelas regiões centrais da cidade é resultado de uma estratégia da Segurança Pública, de uma operação policial que teve como principal objetivo também fazer com que essas pessoas se deslocassem pela região. Isso começou em meados de 2021, 2022, e desde então essas pessoas têm sido obrigadas a circular pela região. Isso faz com que você tenha uma amplificação territorial do problema. E então, se antes você tinha uma cena de uso concentrada em três quadras, você amplifica essa sensação do problema para 30 quadras. Além disso, é importante a gente entender que também é a violência policial que faz com que haja uma reprodução da violência dessas pessoas com outras pessoas que vivem ali no centro.”

Giordano Magri – Foto: ResearchGate

O pesquisador destaca que, do ponto de vista da Segurança Pública, seria necessário diminuir o nível de violência que é infringida contra essas pessoas. Outro problema é a especulação imobiliária, que desde 2018 tem tentado mudar o perfil dos moradores da região, sem ofertar estratégias de cuidado ou de alternativas de geração de renda e de moradia para as pessoas que vivem em situação de rua. “Vale lembrar que essa é uma das regiões com maior concentração de pessoas em situação de rua, é um lugar histórico de cena de uso de drogas, os serviços de cuidados foram fechados e as ofertas foram desarticuladas. O que a gente vê é que há um processo de limpeza e de higienização acontecendo ali na região, articulado entre especulação imobiliária e alternativas de Segurança Pública, que dão muito Ibope, que têm uma visibilidade grande, mas uma efetividade muito baixa.”

Atuação conjunta

Há décadas o LabCidade da USP, coletivos, movimentos sociais, grupos de pesquisa atuam nos bairros da Luz, Santa Ifigênia e Campos Elísios, cotidianamente transformando esse território juntamente com as pessoas que moram, circulam e trabalham nele. Débora Ungaretti, pesquisadora do LabCidade, destaca que atualmente está sendo realizado um trabalho buscando construir sem destruir. O LabCidade compõe uma articulação que reúne mais de 40 entidades. A pesquisadora cita que “qualquer proposta de transformação precisa ser pensada considerando a história e a experiência urbana e social existente, garantindo a possibilidade de permanência e garantia de direitos das pessoas e coletivos que compõem aquele tecido urbano”.

Débora Ungaretti – Foto: CV Lattes

A região central não conta somente com usuários de drogas, há também  pessoas em situação de rua, moradores de cortiço, pensões, ocupações e outras formas de moradia popular. Experiências de políticas internacionais como Moradia Primeiro ou espaços seguros de uso são referências, mas não alcançam a escala e complexidade de São Paulo. Segundo Débora, “a gente pode então partir de experiências e propostas elaboradas com base na experiência de São Paulo, parte delas interrompidas, sem grande escala ou nunca implementadas, mas que podem ser fortalecidas, retomadas e ampliadas. É o caso do projeto elaborado pelo Fórum Aberto Mundaréu da Luz, em 2017, que reivindica a produção habitacional como locação social e moradia terapêutica a partir da manutenção do estoque construído. Propõe também políticas de redução de danos, equipamentos públicos e espaços comerciais que dialoguem com as necessidades das pessoas que vivem no bairro, como hortas comunitárias, parquinhos, restaurantes, escolas, banheiros públicos, oficinas compartilhadas. É o caso também de experiências de ocupações de moradia como a Mauá, a Ouvidor ou de ações de coletivos que atuam no território, como o Teto Trampo e Tratamento. Do ponto de vista de políticas públicas, podemos mencionar o De Braços Abertos, que foi interrompido, e também o programa de locação social, que existe desde 2002 e poderia ser ampliado e fortalecido”. 


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