“Precisamos preservar os nossos próximos”

Em sua coluna, Renato Janine Ribeiro aborda a questão da urgência climática e sua relação com o aspecto ético do problema, “porque não se trata simplesmente de salvar a pele de cada um, trata-se de garantir a sobrevivência da humanidade”

 25/09/2024 - Publicado há 6 meses

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No início de sua coluna, Renato Janine Ribeiro chama a atenção para uma matéria publicada pela revista Veja há bastante tempo, na qual a publicação se colocava contra os alertas de riscos que o mundo corria, sobretudo os de ordem ambiental, colocando-os na conta dos apocalipses e do clima de pânico que veio na esteira do milenarismo . “Essa matéria, na verdade, tinha a finalidade de distrair as pessoas das urgências e hoje parece que a urgência principal, que está chamando a atenção no mundo todo, é a urgência climática, é uma questão altamente ética sob vários pontos de vista”, enfatiza o colunista, ao observar que a preservação da humanidade está em risco, dado o aumento da temperatura pelo qual passa o planeta. “Vejam, por exemplo, o descongelamento das geleiras está acontecendo em velocidade mais rápida do que se previu, se desejava, pode colocar praticamente todas as praias do mundo debaixo d’água, ou seja, as cidades praianas do Brasil, vários arquipélagos, vários países que são insulares podem, em função disso, perder territórios grandes.” Janine coloca nesse “pacote” cidades como Rio de Janeiro, Salvador,  Recife, Fortaleza e Manaus, que perderiam inúmeros bairros e passariam a ser cidades como “Venezas improvisadas”.  “Então essas questões todas se tornam fundamentais para nós, eu quero enfatizar o aspecto ético disso, porque não se trata simplesmente de salvar a pele de cada um, trata-se de garantir a sobrevivência da humanidade.”

“Nós não vamos salvar o planeta”, afirma ele. “O planeta não precisa da gente. O planeta pode aquecer quantos graus for, o planeta pode conviver com territórios urbanizados que fiquem debaixo das águas para sempre, o planeta pode ter tudo isso, o planeta pode, inclusive, se sair muito bem sem a espécie humana, talvez para o planeta seja até um ganho, porque nossa espécie foi e continua sendo muito predatória. A questão que está em jogo é: queremos preservar esse planeta para as populações, sobretudo as mais vulneráveis? Cada um de nós pode salvar a sua pele, mas não quer dizer que os outros salvem”, ressalta Janine. “Salvar a própria pele muita gente pode, você pode mudar de uma cidade praiana para uma cidade de interior, se você tiver dinheiro, mas o que diz isso dos outros? E mais uma questão final: quem somos nós, quem é cada um de nós sem os elos sociais? Cada um por si esquece o fato de que nós somos uma espécie que só vive em sociedade, então nós precisamos preservar os nossos próximos.”


Ética e Política
A coluna Ética e Política, com o professor Renato Janine Ribeiro, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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