Pela primeira vez na história, um negro vence o Prêmio Pritzker de Arquitetura, considerado o Nobel de sua categoria. A façanha coube ao arquiteto africano Diébédo Francis Kéré, vencedor num campo muito elitizado, como reconhece o professor Guilherme Wisnik, uma vez que compreende um ensino universitário especializado, uma clientela com boas condições econômicas e uma significativa rede de relações. Mais do que isso, porém, a arquitetura de Kéré, que construiu sua carreira na Alemanha, “é muito merecedora de um prêmio assim”. Ele se notabilizou por suas obras públicas, como escolas e edifícios de saúde e esporte, mas seu grande feito foi a construção de uma escola primária num vilarejo carente em Gando, localizado em Burkina Faso, país de origem de Kéré.
Wisnik diz que a escola é um pavilhão linear no meio de um solo arenoso, composta de três blocos de salas de aula intercalados por vazios, “que são como pátios cobertos, varandas, tudo isso coberto por uma grande cobertura contínua de estrutura metálica, de treliça e uma cobertura curva de zinco. As paredes são de tijolos de adobe feitos localmente, o que tem uma qualidade de impacto térmico muito melhor do que os blocos de concreto que normalmente se utilizam e que gastam muita energia para a fabricação, com resultados térmicos muito piores”. A escola, resume o colunista, foi feita com recursos simples, mas com um desenho muito sofisticado. “A escola não é só um receptáculo para aulas que vão acontecer lá todos os dias, mas o próprio edifício é também um modo de ensinar e de transformar pessoas, numa relação solidária umas com as outras, usando materiais que têm a ver com compromisso ecológico, que destaca a arquitetura do Kéré.”
Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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