“Modernismo, um bandeirantismo do século 20”

Essa premissa, segundo Grossmann, tem que ser vista de forma crítica e analisada por diferentes pontos de vista

 16/03/2022 - Publicado há 2 anos
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Martin Grossmann continua a questionar e refletir sobre os cem anos da Semana de Arte Moderna e os 200 anos da Independência do Brasil. Em sua coluna Na Cultura, o Centro Está em Toda Parte, na Rádio USP (clique e ouça o player acima), comenta: “O que eu gostaria de retomar é uma proposição que fiz no ano passado, no início das comemorações. Volto a destacar a relação que fiz naquele momento entre o bandeirantismo e o Modernismo. São formas evidentes de conquista, expansão, de representação de uma jovem nação como o Brasil”.

Grossmann observa, no entanto, que a premissa dessa proposição comparativa, bandeirantismo e Modernismo, deve ser vista de forma crítica. “Precisa ser analisada por pontos de vista diferentes, passando por um processo de permanente revisão, dada a importância que tem na formação do Brasil como nação, nesta cartografia que hoje nos representa.”

O colunista destaca as referências historiográficas que estão nos livros e em outros meios. “Os bandeirantes são os sertanistas do período colonial que, a partir do século 16, mas principalmente no século 17, penetram no interior da América do Sul, seja em busca de riquezas minerais como também para a captura e aprisionamento de indígenas, visando a sua escravização, assim como ao extermínio de quilombos.”

Essas ações se apoiavam, em grande parte, em ordem militar. “Mas, muitas vezes, não contavam com o apoio das autoridades coloniais e, nesse sentido, agiam como milícias”, observa o colunista. “É inegável que contribuíram em grande parte para a expansão territorial do Brasil além dos limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas. Porém, não podemos esquecer que esses bandeirantes paulistas capturaram e escravizaram 300 mil índios e muitos outros foram dizimados devido à violência empregada e sujeitos às doenças transmitidas pelos seus integrantes.”

Grossmann comenta que a conquista territorial do Brasil, efetuada pelo Modernismo, não possui necessariamente São Paulo como ponto de partida. “Apesar da mitificação da Semana de Arte Moderna de 1922 como evento primordial, Rio de Janeiro reunia essas condições por ser capital federal. Após a Revolução de 1930, o Estado lança as bases de uma política cultural que teve como marco inicial a criação do Ministério da Educação e Cultura, desdobrando-se na formação de diversos outros órgãos e instituições públicas.”

Esse entrelaçamento entre cultura e política contou com intelectuais das mais diversas formações e correntes de pensamento. “Essa participação visou a consolidar uma política de Estado para o Brasil. Um projeto de nação modernista que permanece como principal referência simbólica, estrutural e operativa até a retomada democrática de meados da década de 1980.”


Na Cultura, o Centro está em Toda Parte
A coluna Na Cultura o Centro está em Toda Parte, com o professor Martin Grossmann, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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