Em uma coluna anterior, há cerca de um mês e meio, a professora Marília Fiorillo previra que a fuga das tropas americanas e aliadas mergulharia o Afeganistão no caos. “Não prevíamos, porém, que a tomada de poder da milícia Talibã fosse tão rápida, questão de dias, não de meses”, observa. “Ficou patente o desespero da população nas imagens em que civis lotam o aeroporto, buscando inutilmente um lugar em um voo ou nas cenas de Cabul deserta de mulheres.” Pergunta Marília: “Como explicar o fracasso da maior potência militar do mundo, cujo contingente militar era infinitamente superior ao das milícias Talibãs e que ocupou o país sem projeto político por 20 anos”?
A explicação, diz ela, é simples: “Não se trata de um fracasso. Nesse período, o complexo militar industrial embolsou cerca de US$ 1 trilhão. Morreram 40 mil civis afegãos, 64 mil soldados afegãos e apenas meio por cento disso em baixas de norte-americanos”. Marília diz que se comparou o helicóptero que resgatava americanos no Afeganistão com a foto do último helicóptero a deixar o Vietnã, uma comparação esdrúxula, segundo ela. “Os Estados Unidos perderam a guerra para o povo vietnamita, e desta vez, ao contrário, abandonaram a população afegã, que teme e detesta o Talibã, à mais terrível das sortes.”
A colunista observa ainda que o Talibã, que ganha bilhões de dólares por ano com o comércio de ópio, voltou ainda mais brutal. “Suas vítimas não serão só as mulheres, mas as minorias étnicas.” Para Marília, a imagem ícone dessa catástrofe não é sangrenta: é o rosto contorcido de ódio de um soldado americano apontando a arma para um menino que tenta se agarrar em um avião. “O Império resolveu se safar de um probleminha que eles mesmos tornaram insolúvel.”
Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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