Renato Janine Ribeiro aponta problemas da imprensa brasileira

A falta de interesse por assuntos de relevância para o País e a mistura entre fato e opinião são alguns dos erros da imprensa brasileira hoje, destaca o professor de Ética e Filosofia Política da USP

 10/05/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 12/05/2016 as 15:28
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“A facilidade com que notícias falsas se propagam e com as quais existe pouco cuidado em verificar”, “a mistura de má informação e de mentira” e o “descompromisso com a verdade, de propósito ou por falta de informação.” Com essas preocupações, o professor da USP e ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro deu início ao evento A Ética na Imprensa, realizado no dia 9, segunda-feira, no Centro Universitário Maria Antonia (Ceuma) da USP.

Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Renato Janine Ribeiro no evento A Ética na Imprensa – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

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As colocações de Janine Ribeiro incorporam algumas de suas experiências durante o período em que foi ministro da Educação, entre abril e setembro de 2015. Segundo ele, no Ministério ficaram evidentes problemas como a falta de cobertura de assuntos importantes, inclusive o tema da própria pasta. “Em várias notícias que saíram quando eu era ministro, havia maior interesse em fofoca sobre educação do que sobre educação.” Para ele, é preocupante que algo constantemente apresentado como a solução do País – a educação – desperte tão pouco interesse na maior parte dos veículos jornalísticos. Além disso, faltaria conhecimento sobre o que acontece no Brasil adentro, crítica que ele dirigiu especialmente à imprensa paulista.

Outro ponto crítico, segundo Janine Ribeiro, é a mistura entre opinião e relato, que, para o professor, é o pior lado da imprensa brasileira, tendo as revistas semanais como principais representantes do problema.

Nós temos uma mistura do fato com a opinião que torna o relato absolutamente inconfiável.” 

Mesmo admitindo a impossibilidade de fazer uma separação total entre fato e opinião, ele considera que é preciso perseguir essa diferenciação.

Citando exemplos de revistas estrangeiras que fazem reportagens aprofundadas – como The New Yorker e Vanity Fair –, Janine Ribeiro apontou um fator que seria decisivo para gerar bons relatos: colocar o jornalista como pesquisador e proporcionar a ele longos tempos de imersão nas realidades a serem tratadas. Mas isso é caro. “O nosso jornalista não faz mais isso. Ele faz várias matérias por dia. A cobertura dele é muito pequena e limitada. E muitas vezes é norteada pelo preconceito do órgão de imprensa”, avaliou.

O professor comentou também que considera “muito próximas” a cobertura de serviços e a espetacularização da imprensa. Em ambas atuaria a “lógica do consumo”. “Toda a lógica de comunicação entre as pessoas está extremamente afetada pelo espetáculo. A Caras pode não ser a revista mais vendida do Brasil, mas esse espírito está presente um pouco em tudo. Diante disso, a ideia da manchete mais precisa, da notícia mais adequada, da reportagem mais correta está sob forte risco”, ponderou.

Renato Janine Ribeiro é professor de Ética e Filosofia Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. O evento A Ética na Imprensa faz parte da série Inquietudes Urbanas – Imprensa em Foco, promovida pelo Ceuma.

Ouça a seguir trechos da fala do professor Renato Janine Ribeiro no evento A Ética na Imprensa.

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