Envelhecimento saudável requer políticas de cuidados de longa duração

A Comissão Externa do Envelhecimento Saudável, criada pela Câmara, ampara-se em quatro pilares e pretende debater as políticas públicas para alinhar as ações às diretrizes da Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030) da ONU

 15/06/2021 - Publicado há 3 anos
Estratégias para levar qualidade de vida aos idosos são traçadas desde 2002, quando aconteceu a Assembleia Mundial do Envelhecimento – Foto: Pixabay/Reprodução/IQSC/USP
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) pretende incluir a velhice na lista de classificação de doenças, o que gerou debates entre especialistas. Por outro lado, a Câmara dos Deputados aprovou, em abril, a criação da Comissão Externa do Envelhecimento Saudável, com o objetivo de acompanhar e debater as políticas públicas para alinhar as ações às diretrizes da Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030) da ONU (Organização das Nações Unidas).

Na opinião de Yeda Duarte, professora da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e coordenadora do Estudo Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento, a criação da Comissão, presidida pela deputada Leandre Dal Ponte (PV-PR), é “muito bem-vinda”. Ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, a professora conta que estratégias para levar qualidade de vida aos idosos são traçadas desde 2002, quando aconteceu a Assembleia Mundial do Envelhecimento.

A ideia é que de 2020 a 2030 nós nos dediquemos ao envelhecimento saudável, afirma. A comissão foi criada com base em quatro pilares: combate ao preconceito contra a velhice, criação de ambientes e cidades adequadas aos idosos, melhoria no sistema de saúde para o atendimento dessa população e os cuidados a longo prazo. “Essa tem sido uma constante reivindicação de especialistas na área de envelhecimento, da necessidade de políticas de cuidados de longa duração”, afirma. “Quando essas pessoas precisam de cuidado, elas vão precisar de cuidado a vida inteira, seu restante de vida todo”, explica.

Com a pandemia e o elevado número de vítimas entre os idosos, houve um movimento da Universidade para que ações fossem tomadas no Brasil a fim de evitar o gerontocídio que estava acontecendo em outros países, o que motivou a criação de frentes nacionais de combate à pandemia. “Isso deu uma visibilidade à questão dos idosos institucionalizados que até então a gente não tinha”, diz. “Essas pessoas eram literalmente esquecidas, a sociedade não olhava para elas”, afirma Yeda, ao comentar que a comissão e as frentes são resultados da organização e atuação da sociedade civil.

Para a professora, a legislação brasileira na área de saúde é bem-feita. “As leis existem, o que elas precisam é serem cumpridas.” Esse é um dos papéis da comissão, que também deve buscar aprimorar as leis que tiverem inadequadas para se ajustar aos 34 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais.

Uma das propostas da OMS busca alterar a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) para incluir a senescência (alterações fisiológicas que acontecem no envelhecimento) como doença. “Eu estou misturando termos de doenças com uma fase da vida, a velhice é uma fase da vida”, afirma Yeda. “A velhice é um sinal e um sintoma do quê?” questiona. A professora acredita que isso pode trazer conotações negativas em relação à velhice. “Estamos em um grande movimento para tentar ver, junto à OMS, a mudança desse código, porque ele pode trazer repercussões muito preocupantes”, afirma, ao citar a indústria do antienvelhecimento.

A comissão é composta de diferentes parlamentares. Ela estabeleceu os quatro pilares e se atentou à legislação. Para a professora, na medida em que ela avançar, a parceria com a academia e com a sociedade civil será fundamental para que as ações da comissão estejam adequadas às necessidades da população.

O assunto também é discutido através do canal O que rola na Geronto, no YouTube, para trazer informações sobre o envelhecimento para as pessoas idosas e combater a desinformação.


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