Mercado começa a dar sinais de desconfiança do governo

Queda na bolsa de valores, depreciação do Real e aumento de juros são indicadores da incerteza do governo em manter o teto de gastos em 2021, o que gera desconfiança do mercado

 14/10/2020 - Publicado há 4 anos

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O aumento dos juros e as quedas na bolsa de valores, nos últimos dias, demonstram um crescimento da turbulência econômica no Brasil, segundo o professor Luciano Nakabashi, que fala sobre essas questões na coluna Reflexão Econômica desta semana. Para o professor, o aumento da dívida do governo, especialmente do governo federal, está na raiz dessas questões. Nakabashi explica que o mercado, de forma geral, já esperava o aumento da dívida pública em relação ao PIB, entretanto, o Brasil já entrou na pandemia numa situação mais delicada, na dívida pública/PIB em relação a outros países em desenvolvimento. “Estávamos começando a colocar a casa em ordem, aí veio a pandemia e levou a uma situação de elevação dos gastos do governo, mas o grande problema tem sido a dificuldade em manter a agenda de reformas, o que ajudaria a controlar a relação entre gastos públicos e PIB.”

Outros fatores, diz Nakabashi, como as discussões de membros do próprio governo sobre infraestrutura, gastos sociais (Programa Renda Brasil proposto pelo governo federal em substituição ao Renda Família) e a possibilidade de não cumprir o teto de gastos em 2021 mostram cada vez mais que o presidente não tem dado apoio à equipe econômica e que o ministro Paulo Guedes está cada vez mais isolado. “O governo está cada vez mais próximo de políticas populistas e distante da agenda liberal dos discursos de campanha.”

O professor ressalta que essas incertezas já mostram resultados, como a queda na bolsa de valores, aumento do câmbio e, consequentemente, a depreciação do Real. “Alguns indicadores e expectativas começam a captar esse momento de incerteza e, com isso, cresce a curva de juros a longo prazo. Quanto mais incerteza quanto à capacidade de pagamento do governo, mais os emprestadores demandam um juro maior para compensar os riscos”, avalia.

Ainda de acordo com Nakabashi, no momento em que a economia está se recuperando lentamente, o aumento do juro desestimula o crescimento e impacta na questão fiscal. Com uma divida elevada, entre 95% a 100% do PIB segundo estimativas, o aumento dos juros tem um impacto grande no pagamento dos próprios juros e isso leva a mais incerteza. “Então, é essencial que mantenham o teto de gastos em 2021, pois, apesar da contenção de gastos estar relacionada a uma política de redução de demanda, o efeito sobre as expectativas acaba sendo muito maior e proporciona uma retomada de forma mais eficiente, mas tudo isso requer andamento das reformas para garantir o crescimento da economia brasileira”, conclui.


Reflexão Econômica
A coluna Reflexão Econômica, com o professor Luciano Nakabashi, vai ao ar quinzenalmente,  quarta-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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