“Extrema-direita quer o fim da União Europeia”, diz Milton Blay

Correspondente aponta que, apesar do cenário aterrador do Leste Europeu, o extremismo de direita avança sobre o Ocidente

 02/09/2019 - Publicado há 5 anos
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Foto: Klaas Brumann/Flickr – CC

O jornalista Milton Blay lança o livro A Europa Hipnotizada: a escalada da extrema-direita. A publicação trata do avanço da xenofobia no velho continente. A obra consiste em registro de fatos marcantes da história, com base na experiência e vivência do correspondente. O texto traz questões relacionadas à imigração, terrorismo, refugiados, islamofobia, antissemitismo, o status do jornalismo, fake news, redes sociais, sob o prisma do momento pelo qual passa não só a Europa, mas também o Brasil e o restante do mundo.

“A União Europeia (UE) significa os desdobramentos do fim da Segunda Guerra Mundial até hoje”, afirma Blay, correspondente em Paris, desde 79, de diversos veículos da imprensa, ao Jornal da USP no Ar. Nesse meio-tempo, foi redator-chefe da Rádio França Internacional e é formado pela Faculdade de Direito (FD) da USP. Segundo ele, o objetivo do livro é explicar essa realidade que parece distante, porém tem repercussões diretas com o Brasil.

O correspondente aponta que, apesar de o cenário do Leste Europeu ser mais aterrador, o extremismo de direita avança sobre o Ocidente. “A Hungria de Viktor Orban já não é mais um país democrático. Hoje, é uma ditadura, onde nós jornalistas não temos mais espaço. Não há mais um jornal sequer que denuncie corrupção”, declara. Ele diz que a conjuntura é similar na Polônia e na República Checa, a despeito do enorme sucesso da transição do comunismo a um regime aberto.

“O ultranacionalismo faz com que as pessoas se fechem e queiram o fim da União Europeia”, analisa Blay, que indica Steve Bannon como o fiador desse movimento global. “Ele teve grande influência no Brasil, nos Estados Unidos”, expõe. Para o jornalista, a extrema-direita quer acabar com os blocos transnacionais e o antiglobalismo é alimentado por dois grandes fenômenos: a eleição de Donald Trump e o Brexit.

O referendo que aprovou a saída do Reino Unido da União Europeia ocorreu em junho de 2016. O processo foi cercado de polêmicas. O escritor diz que a solução à moda Boris Johnson, o atual premiê britânico, deixará consequências. “Se a Grã-Bretanha sai da pior forma possível, isto é, sem acordo entre o governo britânico e Bruxelas, a sede do Parlamento Europeu, haverá a implosão do maior centro financeiro do mundo, alerta. Blay explica que a cidade-Estado de Londres abriga os maiores bancos do globo, que refluiriam com o Brexit.

A vitória de Emmanuel Macron na França não é vista com otimismo pelo correspondente. “Se ele teve 60% dos votos, significa que Marine Le Pen teve 40% dos votos. Ela é uma neofascista”, diz. Na Itália, a coalizão de Matteo Salvini sofreu uma derrota, mas “o nome do político da Liga Norte segue na boca do povo para presidente do Conselho Italiano”, comenta. Blay lembra que na Alemanha há o crescimento de um partido que se proclama neonazista e que compartilha símbolos com Hitler. “Na Finlândia, o país mais bem-educado do mundo, um presidente xenófobo chegou ao poder”, salienta.

O governo finlandês propõe que refugiados que tentam atravessar por mar, rumo à Europa, seja pelo Adriático ou pelo Mediterrâneo, não sejam socorridos. O drama dos migrantes e o antiglobalismo são um coquetel explosivo para Blay. “Uma situação de paz e prosperidade é posta em xeque. E falamos do continente mais sanguinolento da história da humanidade”, argumenta. Isso acarreta uma imobilidade da oposição, diz. “Dá vontade da gente se suicidar, porque essa situação é terrível”, reclama.

Contudo, o correspondente encerra seu texto com a música clássica, sua grande paixão. “Uma espécie de simbolismo, como se a arte, a cultura pudessem, se não resolver esses problemas, pelo menos minimizar as suas consequências para cada um dos indivíduos que sofrem com isso”, expõe.  O livro já está disponível e foi lançado pela Editora Contexto. O jornalista também publica crônicas semanais de política internacional, mirando o público brasileiro, no seu canal do YouTube.


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