Reflorestamento é pouco incentivado no Brasil, diz ambientalista

Pedro Luiz Côrtes diz que o governo deveria manter projetos como o Fundo Amazônia para preservação ambiental

 12/07/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 16/07/2019 as 9:03
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Pesquisa recentemente publicada pela revista Science informa que no Brasil há 50 milhões de hectares disponíveis para reflorestamento em áreas que não estão cobertas por zonas urbanas, florestas ou pela agricultura. Esse território poderia receber mudas de árvores para ajudar a reduzir as mudanças climáticas, geradas pelo acúmulo de gás carbônico (CO2) na atmosfera devido à queima de combustíveis fósseis. Pedro Luiz Côrtes, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (PROCAM) do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP e coordenador da Rede Internacional de Estudos Sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade, conversou com o Jornal da USP no Ar sobre esse estudo, e explicou sua relação com o projeto Fundo Amazônia.

A importância da possibilidade de reflorestamento apontada pela revista é dada em função da captura de CO2 da atmosfera por meio das árvores, que, pelo processo da fotossíntese, absorvem parte do carbono e liberam oxigênio. Por conta disso, os altos índices de desmatamento atuais são preocupantes, já que, segundo Côrtes, “as florestas funcionam como repositórios de gás carbônico capturado da atmosfera. Quando as árvores são derrubadas, o carbono que elas haviam capturado volta à atmosfera pelo processo de decomposição e causa outros problemas ambientais”.

É a partir desses dados que o especialista lembra a importância do Fundo Amazônia, programa que utiliza doações especialmente da Noruega para financiar projetos de redução do desmatamento e recuperação da floresta amazônica. “Em termos práticos, com o Fundo Amazônia, Brasil recebe dinheiro para proteger a floresta“, conta ele. “O mesmo tipo de solução adotada pelo Fundo Amazônia, que concede esse tipo de recompensa pela proteção ao meio ambiente, poderia ser adotada para as demais áreas capazes de receber projetos de reflorestamento, cuja disponibilidade foi indicada pelo trabalho publicado na Science, até porque os principais doadores reforçam que o sistema de governança adotado no projeto é extremamente eficiente e ele está sendo bem gerido”.

Nesse sentido, as mudanças no Fundo propostas por Ricardo Salles, atual ministro do Meio Ambiente, deixam os ambientalistas receosos. “Se o projeto está funcionando bem, por que ele deveria ser alterado? Os principais doadores (Noruega e Alemanha) já sinalizaram sua insatisfação com a proposta do ministro e podem encerrar as doações. Isso seria o fim desse fundo de preservação. Isso me parece uma espécie de pretexto para justificar desmatamento na Amazônia. Afinal, quem seria contra ele seria contra progresso e o desenvolvimento econômico. Querem dizer que preocupação ambiental não é relevante”, aponta o professor.

As alterações planejadas pelo governo têm como objetivo fomentar o desenvolvimento econômico, porém coloca em xeque a questão ambiental. Côrtes diz que o argumento econômico não justifica a desarborização, e afirma que “o desmatamento na Amazônia ocorre, em muitos casos, em terras da União. O governo – oficialmente não autoriza esse tipo de atividade e nem recebe qualquer pagamento pelo uso de terras públicas. Quem desmata esses territórios não está preocupado em desenvolver atividades legalizadas, com pagamento de taxas e impostos. Portanto, o pretenso desenvolvimento econômico com áreas desmatadas vai atender somente a poucos interessados. Com essas mudanças, o Governo Federal abriria mão de receber recursos com fundos de preservação como o Fundo Amazônia  e preferiria incentivar um desmatamento que favorece a poucos e que não gera recursos para a União”. 


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