Veja no vídeo a seguir:
O primeiro, Entre versos controversos, foi lançado em julho de 2014. O segundo, Entre versos controversos – O canto de Itaquera, foi lançado no ano seguinte. “O sucesso do projeto foi tamanho que além da publicação dos livros, os alunos passaram a receber convites para apresentações culturais e saraus”, comemora o docente. O projeto foi o ganhador do Prêmio Paulo Freire de Qualidade de Ensino Municipal: em 2014 (terceiro lugar) e em 2015 (primeiro lugar).
O trabalho está sendo o foco do mestrado profissional (PROFLETRAS) que Almeida desenvolve na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, sob a orientação da professora Maria Inês Batista Campos. Trata-se de uma pós-graduação stricto sensu em Letras e visa a capacitação de professores Língua Portuguesa para o exercício da docência no Ensino Fundamental.
“O projeto tem permitido analisar como os alunos utilizam sua escrita literária para refletir sobre questões sociais e entender a realidade do bairro de Itaquera. Eles aprenderam a questionar a realidade e se tornaram mais sensíveis às questões humanas”, destaca o professor.

A iniciativa começou em 2013. Como alguns alunos tocavam violão, eles passaram a levar o instrumento para acompanhar as músicas de MPB e de rock. A maioria tem entre 12 e 15 anos e está no oitavo e no nono ano do ensino fundamental, mas muitos já cursam o ensino médio. “Muitas vezes recebemos a visita de ex-alunos”, conta Almeida. As reuniões ocorrem após o horário das aulas, uma vez por semana, durante cerca de duas horas. Além da música, os alunos também leem e produzem textos. Foi aí que surgiu a ideia de publicar os livros.
O foco do trabalho é a criação literária a partir de imagens poéticas, onde o sentimento é o norteador para a elaboração do poema e não necessariamente a sua estrutura literária. “Ao abordar em sala de aula um tema como racismo, a discussão pode ser toda fundamentada por meio dos poemas que eles escrevem”, diz.
PROFLETRAS
Almeida iniciou o mestrado profissional sem a intenção de se tornar um pesquisador ou professor universitário, ou de lecionar em escola privada. “A ideia é melhorar minha prática na escola pública. É uma formação pessoal para eu aplicar no Arrobas ou em qualquer outra escola, principalmente no setor público, que é o que mais carece”, explica. Ele relata que sentia falta de aliar a teoria e a prática. E o PROFLETRAS lhe apresentou a teoria por meio de alguns autores cujas ideias estão sendo muito importantes para ele: o filósofo e pensador russo Mikhail Bakhtin; Brian Vincent Street, professor do King’s College London, no Reino Unido, e da antropóloga Michèle Petit.

“Depois do PROFLETRAS, eu comecei a perceber melhor o poder ideológico da palavra e a conhecer mais o trabalho desses autores. Por meio das palavras e dos versos, os alunos mostram a região em que moram. Houve uma construção de identidade, uma valorização da periferia de Itaquera, foi como um resgate de autoestima. E eu comecei a perceber esse poder das palavras nos versos dos meus alunos”, aponta. Por isso, para Almeida, é imprescindível para o professor se debruçar nos estudos para melhorar sua prática em sala de aula.
Influenciando vidas
O projeto também inspirou os funcionários da Escola, como o inspetor de alunos Hélio Adão, de 60 anos. Ele já escrevia poesias antes. Quando houve a publicação do livro, surgiu a possibilidade de publicar algumas de suas poesias. Mas ele perdeu o caderno com seus escritos. E o pior: não tinha cópia de nada.
Porém, isso não foi motivo de desistência para o inspetor, que está prestes a se aposentar. Depois de uma visita ao bairro da Guilhermina (próximo à Itaquera e também na zona leste de São Paulo) e de relembrar algumas histórias que viveu durante a infância, Helio Adão teve uma ideia. “Agora eu comecei a escrever minhas memórias de infância. Eu escrevo, passo a limpo e passo para o professor Daniel ler e fazer as correções” conta o inspetor. “Quem ler as memórias vai ter uma noção clara de como era a vida naquela época”, finaliza.
Mais informações: email danielgtr@gmail.com ou site www.danielgtr.com, com Daniel Almeida