Em meio à crise política e econômica, o Brasil registrou em 2015 uma alta no índice que mede a concentração de renda. Mas o dado ainda indica uma situação de estabilidade do nível da desigualdade, segundo a cientista política Marta Arretche, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e diretora do Centro de Estudos da Metrópole
Em 2015, o Brasil teve a primeira alta da desigualdade registrada no País no século XXI. O aumento foi verificado pelo índice de Gini, que cresceu 0,008 ponto no quarto trimestre de 2015 em relação ao mesmo período de 2015. A alta rompe com a sequência de resultados de queda do índice que marcou os últimos 15 anos. No entanto, para Marta Arretche, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e diretora do Centro de Estudos da Metrópole, o dado aponta mais para uma situação de estabilidade da desigualdade do que para um quadro de aumento significativo. Confira a entrevista no podcast do Ciência USP:
O índice de Gini, criado pelo estatístico italiano Corrado Gini, em 1912, é um instrumento que mede a concentração de renda e é usado para calcular a desigualdade social. A medida vai de zero a um – sendo UM, o equivalente a uma distribuição de renda totalmente igualitária, e o ZERO, uma situação hipotética na qual apenas uma pessoa, ou um grupo muito pequeno de pessoas, concentram toda a renda da sociedade em que vivem. O cálculo é feito a partir do total da renda da sociedade que se pretende analisar. No Brasil, ele é calculado a partir dos dados da PNAD – a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. A pesquisa é realizada pelo IBGE desde a década de 1970.
Os dados mais recentes da PNAD Contínua, indicam que, no trimestre que acabou em janeiro, houve aumento da taxa de desemprego, que chegou a 9,5%, e uma queda de 2,4% no rendimento médio dos trabalhadores brasileiros, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Marta Arretche destaca que é importante desagregar esses indicadores para entender quem mais perde na atual crise econômica. Segundo a professora, políticas como o Bolsa Família e a correção do salário mínimo pela inflação protegem os mais pobres e menos escolarizados dos efeitos mais perversos da crise.
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