Cerimônia relembra pesquisadores que formaram gerações de economistas

Homenagem da FEA foi em memória de Armênio de Souza Rangel, Joe Yoshino, Paul Singer e Raul Cristóvão dos Santos

 22/06/2018 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 25/06/2018 as 10:19
Evento lembrou a trajetória de quatro grandes nomes que integraram o corpo docente da FEA – Foto: Divulgação FEA

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No primeiro semestre deste ano, a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, em São Paulo, perdeu quatro grandes nomes que compuseram o corpo docente do departamento de Economia ao longo da história. Armênio de Souza Rangel, Joe Yoshino, Paul Singer e Raul Cristóvão dos Santos contribuíram para a formação de gerações de economistas e foram grandes pesquisadores e pensadores dos estudos de ciências econômicas no Brasil.

A FEA homenageou os professores em uma cerimônia in memoriam, no dia 7 de junho. O evento contou com a presença de amigos, familiares e alunos dos docentes, bem como professores da casa. O professor Adalberto Fischmann, atual diretor da faculdade, e o professor Eduardo Haddad, chefe do departamento de economia, estiveram presentes e prestaram suas homenagens.

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Armênio de Souza Rangel

Tomás Rangel, filho do professor Armênio, recebe a placa de homenagem das mãos do professor José Carlos de Souza Santos – Foto: Divulgação FEA

 

Professor Armênio de Souza Rangel – Foto: Divulgação FEA

Armênio foi um grande nome do departamento de Economia: graduou-se em 1981 e começou a lecionar apenas quatro anos depois. Passou dez anos estudando e ensinando disciplinas da área de História Econômica, quando, em 1995, migrou para a área de Economia Financeira.

Foi nesse momento que se aproximou do professor José Carlos de Souza Santos, o qual acompanharia sua trajetória de perto: “Armênio foi um enorme companheiro acadêmico meu. Escrevemos três livros e dois artigos juntos”, relembra. Além desses, Armênio é conhecido por sua notável produção acadêmica: escreveu 12 artigos, 12 livros, 6 capítulos de livros, 25 trabalhos de pesquisa e 26 orientações acadêmicas.

“Era uma pessoa de opiniões muito fortes. Para ele, era preto ou branco; não existiam tons de cinza”, comenta o professor Zeca, como é mais conhecido o professor José Carlos, que manteve discussões bastante longas e construtivas com seu colega ao longo da vida. “Serei eternamente grato a ele.”

Depois de construir seu legado na FEA, o professor também passou a atuar na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, em 2008, lecionando em disciplinas econômicas do curso de Turismo até seu falecimento.

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Joe Yoshino

Professor Denisard Alves entrega a placa em homenagem ao professor Joe à sua filha, Ana Paula Maio Yoshino – Foto: Divulgação FEA

 

Professor Joe Yoshino – Foto: Divulgação FEA

O professor Yoshino iniciou sua carreira na Escola Politécnica da USP e foi no mestrado que migrou para a área das Ciências Econômicas, doutorando-se na Universidade de Chicago. Referência em áreas como Teoria Monetária e Mercado Financeiro, Joe Yoshino atingiu o maior título de prestígio acadêmico: professor titular.

Em 1992, conhece o professor Denisard de Oliveira Alves, que se tornaria um grande amigo e companheiro de estudos. “Joe teve uma contribuição muito importante para o departamento porque ele pensava em coisas diferentes, que não estávamos habituados”, conta Denisard. Ele cita o episódio em que Joe conseguiu trazer a então primeira-ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher, ao Brasil, em uma homenagem.

Ele também foi responsável por organizar um mestrado profissionalizante em Finanças (hoje inexistente), o primeiro e um dos poucos desse tipo na história da USP. Essa experiência formou ótimos profissionais que hoje são gratos pela atenção e carinho do professor. A dedicação acadêmica vai além, sua tese de doutorado defendida em Chicago, foi muito importante e impactante na área de Teoria Monetária, contou Denisard.

Mas o que mais se destacava no professor não estava na academia, era sua adoração pela família. Joe é muito lembrado entre seus colegas pela ternura e carinho com que se referia à esposa e às filhas. Além de um profissional reconhecido e exemplar, Joe também deixa sua marca como um grande pai e marido.

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Paul Singer

Rodrigo Toneto entregou a placa de homenagem a André Singer, filho do professor Paul Singer – Foto: Divulgação FEA

 

Professor Paul Singer – Foto: Divulgação FEA

É difícil falar de economia no Brasil sem lembrar de Paul Singer. Professor titular da FEA entre os anos de 1986 e 1998, o economista é reconhecido pela sua trajetória política e ativista. Singer foi um dos maiores conhecedores da Teoria Marxista no Brasil e grande estudioso de temas da área de desenvolvimento econômico, com foco em Economia Solidária.

Mais do que intelectual, ele era um dedicado professor e revolucionário: suas ideias se preocupavam, acima de tudo, com a dignidade humana e o respeito ao próximo. “O espírito democrático do professor era absoluto, ele vivia-o e praticava-o”, diz Leda Paulani, aluna de Singer na pós-graduação e professora titular do departamento de Economia.

O docente teve extensa atuação política. Foi secretário de Planejamento do município de São Paulo e secretário nacional de Economia Solidária. Desde cedo, atuou intensamente nas lutas sindicais, um dos motivos que culminou na sua aposentadoria compulsória, em 1969, com as medidas repressivas do AI-5 na ditadura militar.

Seu espírito revolucionário foi lembrado como grande influência nos alunos. Singer era extremamente atencioso e carinhoso com a prática do ensino, suas ideias progressistas foram essenciais para a formação de gerações de economistas que, inspirados no mestre, ainda lutam por uma sociedade mais justa e democrática. “A honestidade intelectual de Singer era tão verdadeira quanto seu espírito democrático e seu DNA de professor”, relembra Leda.

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Raul Cristóvão dos Santos

Professor Hélio Nogueira e Sylvia Cristóvão dos Santos, esposa do professor Raul – Foto: Divulgação FEA

 

Professor Raul Cristóvão dos Santos -Foto: Divulgação FEA

“É quase desnecessário dizer a minha profunda admiração pelo Raul”. Foi assim que o professor Hélio Nogueira da Cruz homenageou seu amigo e companheiro de departamento, o professor Raul Cristóvão dos Santos. Ingressante na FEA em 1972, Raul graduou-se em 1975 e logo partiu para o mestrado na Universidade de Brasília (UnB). Obteve o título de doutor em Economia pela New School for Social Research, em Nova Iorque, e voltou à FEA em 1985, desta vez como docente.

Especialista em História do Pensamento Econômico e Desenvolvimento Econômico, foi lembrado pelos colegas por seu profundo domínio da literatura e sua exemplar capacidade didática. Quem teve a oportunidade de ser aluno do mestre garante que ele também era um grande amigo fora da sala de aula, sempre disposto a conversar sobre os mais variados assuntos e ajudar sempre que possível.

“O lugar dele era aqui conosco. Vivia tudo isso intensamente. Nós tivemos um privilégio de tê-lo aqui”, finalizou o professor Hélio.

Bruno Carbinatto/ Assessoria de Comunicação da FEA


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