Cézanne buscou a percepção do invisível

Em seu ateliê, em Aix-en-Provence, no sul da França, artista exercitou a liberdade das cores

 22/06/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 24/06/2016 as 14:43
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A região de Aix-en-Provence, no sul da França, onde fica o ateliê de Paul Cézanne – Foto: Atílio Avancini

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A cor em liberdade
é o último módulo dessa viagem junto com os mestres do Pós-Impressionismo. Mas, como bem concluiu o filósofo francês Maurice Merleau Ponty, ao estudar a dúvida de Cézanne: “O olho vê o mundo, e o que falta ao mundo para ser quadro, e o que falta ao quadro para ser ele próprio, e na paleta, a cor que o espera; e vê, uma vez feito, o quadro que responde a todas as outras faltas”.

Simples ver o mundo, as cores, mas o que está atrás do invisível? Foi esse invisível que abstraiu Cézanne do mundo para pintar a montanha de Santa Vitória infinitas vezes. A mesma imagem, mas sob diferentes ângulos e em todas as estações do ano, até transformá-la num gesto, num desenho de uma única linha quase imperceptível.

20160622_01_montanhacezaneDiante da tela No parque de Château Noir, entre a cidade de Aix e a Montanha de Santa Vitória, é possível observar a natureza em movimento. Cézanne apreende o vento entre as árvores. Um observador atento, depois de uma pausa na frente dessa tela, talvez possa perceber não o vento, mas a sensação do vento. Quando vir a aparente simplicidade do Vaso Azul, diferente das composições exuberantes de Renoir, poderá se surpreender com a harmonia dos diferentes tons de azul, do jogo de linhas verticais, horizontais, do fundo infinito da paisagem tão delicada. É possível ver nessa tela o movimento silencioso do pintor em seu ateliê.

Montanha Santa Vitória

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O ateliê do artista – Foto: Atílio Avancini

As folhas das árvores vão filtrando o sol das 9 horas. A luz do inverno se espalha devagar no ateliê que o próprio Paul Cézanne projetou. O voo dos pássaros, o jardim e o céu se integram através de uma vidraça. É o quadro que torna visível o sonho do pintor: a parceria infinita com a natureza.

Os passos dos visitantes no assoalho de madeira – cerca de 70 mil por ano, vindos de todos os cantos do mundo – quebram o silêncio do artista. O chapéu de feltro, o casaco de lã e o cajado estão ali para lembrar os passos do artista até a Montanha de Santa Vitória. Altiva. Com seu cume prata, foi contemplada até o último desenho de sua vida. Paisagem que perseguiu em todas as cores e formas e continuou inatingível até se diluir nas aquarelas esboçadas poucos meses antes de sua morte. Viveu a grande montanha como um sonho.

É essa existência que está na atmosfera do ateliê preservado pela Secretaria de Turismo de Aix-en-Provence, sua cidade natal, no sul da França. Uma casa assobradada de cem metros quadrados, onde o pintor trabalhou nos últimos anos de sua vida, de 1902 a 1906. Fica no canto de um jardim de 7 mil metros quadrados, entre oliveiras, figueiras e castanheiras. Hoje, a avenida tem o nome do artista: avenue Paul Cézanne.

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